A SÚPLICA E A MISERICÓRDIA.
Certa manhã de novembro quando o sol está mais forte e o céu mais
azul, parecendo contemplar o formoso dia. És que acontece uma nova
história surpreendente: Subindo a ladeira que conduz ao cemitério da
cidade, vi um homem que de volta descia, numa demonstração de alegria e felicidade contrastando com o lugar que vinha. A mim mesmo
perguntei: será que alguém possa achar motivo de expressões alegres
em uma necrópole? Será que o horror dito por grande maioria das pessoas em relação a morte que os gela, entristece e infelicita, tenha feito enlouquecer este coitado e a perda da razão justifica a sua atitude, ou será a sua razão superior aos demais, fazendo-o pensar de maneira a inferiorizar a morte, sendo assim, alheio ao pavor dos que creem tudo acaba na morte? Parei o homem na sua descida, era o retrato da felicidade. E perguntei a causa da sua alegria. Não se fez de engano.
Senhor, hoje Deus me concedeu a maior das felicidades; deu-me o descanso de espírito que almejava, tirou-me uma preocupação que me
torturava. Perguntei, como assim? Simplesmente, Deus chamou pra si,
minha velha mãe, aquela santa mulher que me trouxe ao mundo, que
sofreu para me criar, sem pai, me fez homem capaz de venerá-la, e
não teve nenhuma proteção humana. Sim, eu a venero. Quando me recordo que foi no trabalho pesado, sem conforto e sem descanso(era
lavadeira de ganho) criou-me e educou-me no caminho da vida e agora já doente, tinha em mim, no fim da vida, tudo que eu encontrei em si no principio da minha vida. Sorrio de felicidade quando até horas antes chorava de tristeza. Ao calar-se o homem, perguntei-me
será que a morte encerra tudo da vida? Ele disse-me: Sabe senhor, porque estou eufórico? Se eu morresse primeiro a minha velha ficaria
só no mundo a suportar mais dores desde a esmolar e a indiferença dos outros. Se eu morresse primeiro, minha alma não teria descanso,
porque estava presa a ela ainda vivia no cárcere da vida. Se eu morresse primeiro, ela haveria de descer ao túmulo pelas mão de outras pessoas, estranhos a sua morte, sem dores, no entanto, eu faço cheio de alegria. Cumpri senhor, o meu dever filial até o fim: Deus teve muita misericórdia dela e muita paixão de mim. Aí está senhor,
porque estou feliz. Não acha que eu tenho razão? O silêncio foi a minha resposta e na minha mente circulou; Estará ele abaixo ou acima da realidade humana? O certo é que ele ri em lugar de chorar, parabeniza-se em vez de dar-se pêsames, acha motivo de alegria onde acham os demais, somente, lágrimas e tristezas. É uma opção de
viver, no mundo tão desigual. O homem não é igual ao outro decididamente. Parece que naquele dia, tão linda manhã, a natureza estava-lhe parabenizando o teu ato diante da vida e da morte.
"Tudo quando existe vida morre, tudo quando morre se transforma, até a própria morte transforma-se em vida na lembrança daquele que ficou vivo." (Padre Antonio Vieira).
A morte não é o fim, não é o principio é o caminho para uma nova vida.
Batacoto