Um casal de meia idade procura uma casa para fugir da violência do Rio de Janeiro. Após peregrinação por vários lugares, compra uma que, em parte, atendia às suas perspectivas: perto da praia, da igreja, da padaria e da escola. Foi construída na passagem do vento, entre o mar e a serra.
Quando a compraram, o telhado tinha o formato de um livro aberto com o vértice para baixo, numa posição que protegia as telhas de amianto de 4mm, do vento forte, comum na Praia do Anil.
Os vendavais são assustadores, às vezes, raios atingem pessoas que ousam enfrentá-los a céu aberto. Numa destas ocasiões, arrancou o pé de bougainvíllea que coloria a murada, na esquina da Rua Antônio Pinheiro com Rua Carlos Franco. As telhas voaram todas e a casa foi invadida pela água que, descia na escada e saia pela porta da frente do andar térreo.
Um amigo arquiteto aconselhou o casal a fazer um telhado colonial, com telhas de barro e inverter a posição do vértice para cima. Disse que nunca entendera o porquê de uma casa tão bem construída receber aquele telhado. O casal aceitou a sugestão e todas as telhas foram furadas e amarradas com arame queimado para prevenir os efeitos dos temporais da região e um novo prejuízo. Pois, além do telhado, a casa teve de ser toda pintada.
O marido sugeriu chamar alguém para cortar e retirar o pé de bougainvíllea que impedia a passagem do carro pelo portão. A esposa ficou tão aborrecida que chegou a chorar. Aquela árvore tombada era uma pequena mudinha resultante de um galho que ela apanhara na rua, há mais de quinze anos e plantara muitos galhinhos que regava todos os dias. Ao final de um tempo, dez deles criaram raízes. Ela plantou dois em sua casa e distribuí os demais com a vizinhança do quarteirão, na esperança de terem uma rua florida. Com o passar do tempo, os pés que plantou tomaram conta da murada. Os outros não vingaram.
Ela passou um bom tempo estudando o que fazer com aquele gigante tombado numa extensão de dez metros. Resolveu orientar, pessoalmente, os trabalhos. Com um podão, espécie de alicate que lhe fora presenteado pelo marido, descobriu que, com habilidade poderiam tirar os galhos periféricos, até desbastá-los o suficiente para poder recolocar a árvore no lugar.
Era muito grande. Sem pressa, foram cortando... contando... Levaram algumas lanhadas pelos braços, mas não desistiram de salvá-la do machado. Primeiro desobstruíram a passagem do carro. Cortaram dois galhos grossos nas laterais. Fizeram uma cova ao redor do pé da planta e desbastaram as raízes. Com o auxílio de cordas a colocaram no lugar. Repuseram a terra com adubo para concluir o processo de salvamento. A rega diária era obrigatória.
Os galhos perderam as folhas que só voltaram a crescer em meados da primavera.
O casal precisou fazer uma viagem de dois meses. Os dois voltaram com as chuvas de verão. Chegaram no meio da noite. No dia seguinte, tomaram café, desfizemos as malas e saíram para ver como estava o quintal.
A grama crescida, as calçadas sujas, folhas apodrecidas retendo poças d’água aqui e ali e aquele sentimento de abandono que as pessoas sentem a cada retorno de uma viagem mais longa... Precisavam de ajuda para cortar a grama, limpar o quintal e da faxineira para dar uma limpeza geral na casa antes de retornarem às atividades de rotina.
O marido entrou para atender ao telefone que tocara. A esposa continuou olhando as plantas. As acerolas tingiam o gramado de vermelho e exalavam um cheiro forte de algumas já apodrecidas. Ao atravessar o pomar e chegar perto do portão do outro lado do terreno oposto à casa...
Nossa! Que maravilha! Não acredito... Eu sabia que minha bougainvíllea ia se recuperar. Maria falava alto sem se importar que Jonas, o marido, a olhasse surpreso com a reação dela. Uma profusão de galhos explodia em todas as direções colorindo o canto do muro. Ela correu até o portão e abriu. Na curva da rua desciam em cascata os longos galhos da bougainvíllea pinque, tal se fora arrumada em arranjos ornamentais.
Ela curvou-se em reverência e agradeceu a força da natureza que vem do alto. Os dois se abraçaram e continuaram extasiados a observar aquela maravilha!
Benedita Azevedo
Quando a compraram, o telhado tinha o formato de um livro aberto com o vértice para baixo, numa posição que protegia as telhas de amianto de 4mm, do vento forte, comum na Praia do Anil.
Os vendavais são assustadores, às vezes, raios atingem pessoas que ousam enfrentá-los a céu aberto. Numa destas ocasiões, arrancou o pé de bougainvíllea que coloria a murada, na esquina da Rua Antônio Pinheiro com Rua Carlos Franco. As telhas voaram todas e a casa foi invadida pela água que, descia na escada e saia pela porta da frente do andar térreo.
Um amigo arquiteto aconselhou o casal a fazer um telhado colonial, com telhas de barro e inverter a posição do vértice para cima. Disse que nunca entendera o porquê de uma casa tão bem construída receber aquele telhado. O casal aceitou a sugestão e todas as telhas foram furadas e amarradas com arame queimado para prevenir os efeitos dos temporais da região e um novo prejuízo. Pois, além do telhado, a casa teve de ser toda pintada.
O marido sugeriu chamar alguém para cortar e retirar o pé de bougainvíllea que impedia a passagem do carro pelo portão. A esposa ficou tão aborrecida que chegou a chorar. Aquela árvore tombada era uma pequena mudinha resultante de um galho que ela apanhara na rua, há mais de quinze anos e plantara muitos galhinhos que regava todos os dias. Ao final de um tempo, dez deles criaram raízes. Ela plantou dois em sua casa e distribuí os demais com a vizinhança do quarteirão, na esperança de terem uma rua florida. Com o passar do tempo, os pés que plantou tomaram conta da murada. Os outros não vingaram.
Ela passou um bom tempo estudando o que fazer com aquele gigante tombado numa extensão de dez metros. Resolveu orientar, pessoalmente, os trabalhos. Com um podão, espécie de alicate que lhe fora presenteado pelo marido, descobriu que, com habilidade poderiam tirar os galhos periféricos, até desbastá-los o suficiente para poder recolocar a árvore no lugar.
Era muito grande. Sem pressa, foram cortando... contando... Levaram algumas lanhadas pelos braços, mas não desistiram de salvá-la do machado. Primeiro desobstruíram a passagem do carro. Cortaram dois galhos grossos nas laterais. Fizeram uma cova ao redor do pé da planta e desbastaram as raízes. Com o auxílio de cordas a colocaram no lugar. Repuseram a terra com adubo para concluir o processo de salvamento. A rega diária era obrigatória.
Os galhos perderam as folhas que só voltaram a crescer em meados da primavera.
O casal precisou fazer uma viagem de dois meses. Os dois voltaram com as chuvas de verão. Chegaram no meio da noite. No dia seguinte, tomaram café, desfizemos as malas e saíram para ver como estava o quintal.
A grama crescida, as calçadas sujas, folhas apodrecidas retendo poças d’água aqui e ali e aquele sentimento de abandono que as pessoas sentem a cada retorno de uma viagem mais longa... Precisavam de ajuda para cortar a grama, limpar o quintal e da faxineira para dar uma limpeza geral na casa antes de retornarem às atividades de rotina.
O marido entrou para atender ao telefone que tocara. A esposa continuou olhando as plantas. As acerolas tingiam o gramado de vermelho e exalavam um cheiro forte de algumas já apodrecidas. Ao atravessar o pomar e chegar perto do portão do outro lado do terreno oposto à casa...
Nossa! Que maravilha! Não acredito... Eu sabia que minha bougainvíllea ia se recuperar. Maria falava alto sem se importar que Jonas, o marido, a olhasse surpreso com a reação dela. Uma profusão de galhos explodia em todas as direções colorindo o canto do muro. Ela correu até o portão e abriu. Na curva da rua desciam em cascata os longos galhos da bougainvíllea pinque, tal se fora arrumada em arranjos ornamentais.
Ela curvou-se em reverência e agradeceu a força da natureza que vem do alto. Os dois se abraçaram e continuaram extasiados a observar aquela maravilha!
Benedita Azevedo