O BORRACHEIRO

Nascido sabe-se lá de onde foi encontrado em uma borracharia um menino de doze anos, com uma companheira ainda mais jovem de uns dez anos, dormindo e vivendo sobre a maciez de câmaras de ar de pneus, pois o ambiente era uma borracharia.

O que se pode esperar de uma união como esta, mesmo sendo o senhorio um homem honrado, mas aos olhos atuais da lei, m criminoso por abusar de trabalho infantil e de permitir sobre o teto da Borracharia, uma empresa a convivência de menores e união estável, e onde estariam a esta altura os responsáveis por aqueles menores.

Quem poderia “dar” alguma coisa, alguma esperança para esta união.

O tempo foi passando aquelas crianças crescendo naquele ambiente e ao longo de poucos anos a vida foi ficando adulta, e os 03 três filhos viriam, e aquelas crianças então se tornariam adulta, e nunca se separaram, aquele começo que parecia impossível, improvável, criminoso, fez com que dali brotasse uma grande e honrada família.

Hoje já passado quase trinta anos, eu que vi, vivi e acompanhei o crescimento desta família, me abstendo de interferir, de denunciar as autoridades sociais, posso hoje contar esta história de como uma grande família surgiu de algo que nunca poderia se esperar.

Hoje com os filhos na faculdade, aquelas pequenas pessoas de dez, doze anos, se tornaram adultos sempre responsável, sempre honestos, sempre de bem com a vida.

Ainda nesta semana tive a honra de ver um Borracheiro bem-sucedido falar com o “gogó” cheio de honraria, que seu mestre foi aquele menino Borracheiro, e das qualidades que aquele Borracheiro tem e lhe passou, com grande agradecimento.

Assim aquele menino Borracheiro, se tornou além de grande marido, grande pai de uma grande família, que vive e convive até hoje com sua pequena do ninho da borracha de câmaras de ar, também um grande mestre, que nem mesmos os sesis e senai dos serviços de aprendizado pode transmitir. Pois o menino borracheiro transmite além do conhecimento, responsabilidade e qualidades de vida, exemplo de comportamento.

Esta atividade como nos fornos de carvão, parece uma atividade suja, pois sempre acompanhado de poeira da estrada e pó de borracha preta, de graxa das rodas dos veículos, se assemelha ao forno de carvão que também como as cinzas, as borras do carvão e alcatrão sobradas do fogo que cozinhou aquelas madeiras e celuloses, transmite a marca da negrura, mas de tudo isto, eu que cresci sob e sobre a forma de uma banca de tijolos, que nasce do barreiro dos brejos e após amassado pelas pipas a cavalos ou elétricas, vão para as bancas para serem enformadas e colocadas sobre o sol para extrair o excesso de umidade antes de ir para o cozimento do fogo e se tornar o tijolo estrutural que sustenta a casa.

Estas atividades é uma pena, mas são consideradas pelas autoridades sociais como criminosas, essas autoridades preferem dizer que são policiais do comportamento, principalmente entre os adultos e estas crianças, que vivem à margem e a beira e dentro destas atividades que parecem negras, como abuso de menores, mas todos que por estas atividades passaram aprenderam da convivência, e até mesmo do exercício destes trabalhos, quão valioso é a vida dos trabalhadores, adultos no ambiente que cresceram, ao contrário do que aquelas autoridades desejam de proibirem, de punirem estas convivências, obrigando os adultos e os pais ou responsáveis de impor aquelas crianças a uma ociosidade das ruas, onde longe dos adultos ou das atividades de produção, nada tem a agregar ao estruturamento da vida, e vivendo do ócio, fica somente com o sexo, a droga, e as malvadez que a infância e a adolescência na busca incessante de novos conhecimento conduz, sem que estas autoridades ocupem estas crianças com escolas de tempo integral, com atividades esportivas e de conhecimento.

Eu que vivi produzindo na roça e nas bancas de tijolos, na lida diária com o gado, com os bezerros e suas mães que produziam o precioso liquido branco, o leite, acredito que este aprendizado de convivência ao lado dos adultos trabalhando produzindo o próprio sustento, se alimentando de frutos do campo e dos pomares, e vendo como a vida realmente é, sem ociosidade, cuidando de outros irmãos, de animais, dos velhos, e da parcela do trabalho que na maior parte do tempo o menor faz melhor que o adulto e o velho, subindo em arvores para a colheita do abacate, da manga, da jabuticaba, e de outras frutas em geral. Trabalhando e brincando de trabalhar, colhendo e usando o produto colhido.

O ócio é o caminho do inferno, e isto é incentivado, sem dar outras opções, respeito a fiscalização do trabalho infantil é lógico, mas a vivência dos menores em meio a tralhalho e até mesmo como auxiliares, é um aprendizado que as escolas não substitui. Aprender a trabalhar ainda jovem, mesmo desde muito jovem é uma formação, que as leis e escolas tiram do convívio e em vez de ser para o melhor é para pior.

estreladamantiqueira
Enviado por estreladamantiqueira em 29/05/2017
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