Corpos Feridos

Corpos Feridos

Olhando a paisagem através da janela de seu quarto, relembrou dos dias jovens, o amanhecer da jornada da vida inda em flor. Quando palmilhavas o terreiro da cabana aonde nascera, enchendo-se de alegria e buscando alento naquele recanto do mundo.

Canabrava,Simpatia e Sítio Nova Olinda, motivos de suas ricas e belas lembranças que mantinha na memória arquivada.

Sonhava acordado. Tinha presente à retaguarda o abraço de seu quarto, e à frente como se fosse m trilhas tortuosas que o levava à Simpatia, Canabrava e Sítio Nova Olinda, as Avenidas Getúlio Vargas e Presidente Dutra.

Naquela manhã fora acordado por uma verdadeira orquestra de pardais. A sinfonia dos pássaros soava aos seus ouvidos como um aboio do vaqueiro da caatinga. n Diante de si, olhos fitos na tela divisam imagens diáfanas. Galhos retorcidos do umbuzeiro, copas de coqueiro que enfeitam a rua. Visitam sua mente em sua introspecção, lembranças, e emoções cada vez mais, e amais. Descortinadas na película da moldu7ra em seu cérebro. E as águas serpenteiam em remoinho por entre as pedras da cachoeira. Aguapés encolhem-se às margens como para dar passagem às corredeiras.Volumosas que eram cobriam as pedras na curva do lado direito do rio. Banhava-o a correnteza do suor de seu corpo de bronze, e os olhos pétreos pareciiam rastrear cada mareta.

Não um menino de timão, nem usava calças curtas, a sua vestimenta era uma tanga de saco de algodão (açúcar estrela). Tingido de azul claro ainda carregava o símbolo de estrela. Era um adolescente vigoroso de espírito a desbravar, que pó hora, sem se descuidar, observava tudo o que e se passava a sua volta. Em hipoacusia temporária, alheio ao barulho, chamamentos, gritaria comum nos engenhos, parecia sondar o universo, espera do som das estrelas.

Aquelas águas primeiras poderia dizer que eram velhas, elas tinham o poder e embutiam aos seus ouvidos uma cação que lhe paralisavam os sentidos.

Chegavam barcas carregadas de cana vindas das Ilha Grande e da Ilha do Cachauí. Geraldo e seus companheiros apoiavam varas com o peito e seguravam a barca na brutal correnteza. Seus protuberantes músculos forjados no labor da lida no canavial e no roçado da Ilha Grande, atestavam-lhes o vigor físico que detinham. De peitos nus o suoir escorria, tais quais aquelas volumosas águas do Velho Chico sobre as pe3dras. Tinham brilho metálico como se fossem homens de ferro. A energia de seus músculos como de potro selvagem a ser domado. Chegavam às engrenagens com braçadas e mais braçadas de cana, que as moendas trituravam deixando escorrer a seiva.

Seus sonhos, contudo,continuavam em lindas aspirações, e fantasias. Desejou em dia ser o dono de engenho igual. Ter empregados ao seu mando, muitas terras e uma família numerosa, tanto quanto numerosas eram aquelas águas.

A cana sorvida, esbagaçada saia por um lado e o líquido escorria abundantemente por uma calha enchendo as taças. O coucho de onde era retirada a borra e o caldo quase purificado seguiam diferentes destinos, passando de tacho em tacho, até o ponto de virar raspadura. O suor de seus corpos também descia escorrendo até suas cinturas donde era absorvido no coes da tanga e embebia o llenço, o trapo, a tanga. Era extensão de seus corpos, uma sina que o destino reservara aos filhos de barqueiros da Ilha Grande.

Ao balé das faíscas esquivava-se o foguista Antonio, com rosto em fuligem, um trapo sobre a cabeça se parecia um demônio sobre a fornalha. Línguas de fogo ardente do inferno da fornalha, chamas que ameaçavam traga-lo. Em instantes labaredas lambem o bagaço seco da cana, enquanto torrentes de sangue correm nas veias salientes do foguista, o caldo aquecido borbulhante no tacho se transforma em mel.

Acordado do transe, um grupo de jovens se aproxima. Geraldo agora sonha, pensa estudar, u8sar um avental branco e quem sabe até ser doutor. Quer largar a vida de roça, de barqueiro, realizar sonhos mesmo que pareçam utopia.

O me3stre do engenho passando e todas as seções dando explicações àqueles estudantes. Zenaide a professora desperta em Geraldo especial atenção. Os olhos de Geraldo acompanhavam com toda atenção os passos daqueles visitantes, em especial Zenaide.

Subiam, desciam, pisavam aonde não devia, e eram admoestado o tempo todo pelo mestre do engenho. Zenaide acompanhava de perto o mestre do engenho, subiu o bantente da roda d`água para ver de perto suas engrenagens. De repente tropeçou vindo a cair sendo tragada oelka enorme moenda. O mestre, embasbacado, desmaiou de terror. Todos ficaram pasmos. Os gritos de horror da professora ecoou pelos ares e todos sentiram estarrecidos a infame cena. Geraldo, saindo de seu estado de apatia, empunhou uma tora de baraúna próxima e lançou entre as pás da enorme roda d`água, fazendo-a parar imediatamente. Subiu correndo os degraus e retirou o corpo desfalecido de Zennaide, agora sem uma das pernas.

Passado o tempo, Geraldo procurou dar ruma em sua vida não aceitava ser barqueiro. Seu sonho era estudar e entrou para o MOBRAL. Aprendeu a ler e escrever pretendia casar-se com Zenaide. Tentou uma aproximação e deu certo. Tiveram dias felizes, juras de amor, promessas maravilhosas, nascia com certeza uma grande história de amor.

Largou o serviço na barca, na roça e partiu em busca de novos horizontes. Em sua despedida, eram muitos os solidários. apoiavam a atitude de Geraldo de querer das o melhor à amada.

Sua vida mudou depois que aprendeu a ler e terminou o ginásio. Seus sonhos se transformaram, tornou-se ambicioso, arrogante e egoísta. Zenaide não mudou, nunca parou de receber suas cartas com declarações de amor eterno. Cada dia ficava mais e mais, entusiasmada com as belas promessas. Sua lida se resumia de casa para a escola, onde lencionava para os filhos de barqueiros.

Um dia soube que ele havia chegado à cidade. DFepois da aula, chamou algumas amigas, pois queria fazer-lhe uma surpresa e foram à pousada onde ele se encontrava, mas estava acompanhado de outra mulher,o Seu semblante não era o mesmo estava com semblante carregado, fechado. Sua fala não se parecia em nada com aquela dos tempos do engenho e das cartas de amor. Parecia mais um lobo em pele de cor5deiro e foi grande o desapontamento.

Todos na cidade falavam ele cuidou de seus próprio sentimentos e do velho amor de tantas promessas já nem se lembra mais.

Parecia nem se abalar com fato de fazer sofrer quem tanto o amou. Adentrou rapidamente à Pensão como se tivesse visto o demônio.Pr4oferia em alta voz:¨Está amarrado, está amarrado¨ E se foi para o interior da pousada.

Lágrimas escorria pelas face de Zenaide e banhavam o rosto, os seios e chão. Em sua cadeira de rodas girou e seguiu em frente para o hotel aonde morava.Girou para uma nova vida com sofrimento e coração machucado.

Geraldo foi morar em outra cidade e teve várias mulheres. Certo dia retornou a sua cidade acompanhado de outra mulher. Era um sábado e cidade fervia de gente era também dia de feira. Nesse dia a feira estava agitada, Um homem desconhecido já havia esfaqueado outro em briga de cachaça. Mas Geraldo não bebia nem ele e nem a amante Amélia. Porém estavam agitados, e andavam pra lá e pra cá. Quando de repente apareceu um homem e sacou de um revólver alvejando os dois com vários tiros. Amélia a amante morreu na hora e Geraldo foi levado para o Hospital de Cabrobó, de onde algum tempo depois saiu em uma cadeira de rodas, estava paraplégico.

Agora desprezado, solitário, da janela de seu quarto, seu cérebro revive com saudade, Zenaide.

Em seu cérebro a utópica visita de alguém que ama de verdade. A vida lhe sorrir, seus olhos agora se iluminam. Seus corpos lado a lado, na janela de seu quarto seu cérebro. A Música das águas sinfonia dos pardais, sonhos despedaçados e corpos feridos. Olham-se profundamente e ele exclama: __ É você Zenaide? É você? Nem parece que já faz trinta anos que retirei o teu corpo ferido daquelas malditas engrenagens.

No dia seguinte, bem cedinho um rabecão está parado em frente aquela modesta pensão.

NATINHO SILVA
Enviado por NATINHO SILVA em 26/05/2017
Código do texto: T6010261
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