Mariana

Conheci Mariana na 5ª série do fundamental. Era alta, magra, queimada do sol, olhar sempre baixo, poucas quase raras palavras, atenção redobrada em todas as aulas.

Depois eu soube que Mariana era do interior, o que explicava sua timidez, suas mãos grossas, o fato de ser a mais velha da turma. Todo mundo falava que ela era "matuta", mas Mariana não era nem de longe burra, talvez por conta de sua origem, ela se esforçasse tanto pra ser a melhor. E conseguia ser.

Como ela era muito calada, eu que arrisquei um "oi" ali outro acolá. Depois eu soube tudo sobre Mariana, suas mão eram resultado do trabalho na roça desde cedo, sabia montar, não tinha medo de bicho como criança de cidade, ela já tinha tirado mel de abelha e tudo!

Eu só sabia assistir desenho na TV, jogar vídeo-game, ficava puxando conversa com Mariana, gostava de vê-la falando dessas coisas que eu não conhecia, ficava imaginando se eu pudesse ser personagem das suas histórias...

Um dia ela me disse que ia se chamar Maria Ana, mas no cartório, ouviram seu pai dizer Mariana e escreveram tudo junto. Ela agradece até hoje, mas não por achar feio (ela leu em algum lugar que Ana significa "Cheia de graça" e Maria, "A mais amada"), é que lá de onde ela vinha, toda menina era Maria "alguma coisa" ela não queria ser mais uma "Mariinha". Foi engraçado ouvir Mariana contando essa história, seu jeito, seu sotaque, sua timidez tão peculiar.

O mais admirável é que ela tinha orgulho de suas raízes, de sua simplicidade.

Mariana não voltou depois das féria da 7ª série. Disseram que seus pais deixaram ela estudar noutra cidade. Eu perdi a minha melhor amiga, a pessoa mais incrível que já conheci!

Eu fiquei triste por um tempo, mas eu aprendi com Mariana que o nosso lugar ao sol é a gente que conquista.

Cacá

ANA CÁTIA BARBOSA LIMA
Enviado por ANA CÁTIA BARBOSA LIMA em 09/08/2007
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