REAL FICÇÃO
REAL FICÇÃO
A velhinha, chorosa, sentou-se no sofá frente ao casal que discutia.
Enxugava docemente as lágrimas de seu semblante imolado. A cena inesperada que com tamanha tristeza presenciava, marcava a ferro e fogo seu coração.
- Não adianta, Hermengarda. Por favor, não insista!
- Mas... – hesitava a mulher. – O que será de minha vida, Natanael?
- Não sei! – dizia ele. – Somente o tempo dirá!
- Quanto tempo mais?
- Talvez meses, quem sabe anos... Não tenho certeza de quando vou voltar, aliás, não tenho certeza se vou voltar!
- Por favor, não vá! – insistia Hermengarda ao noivo.
- Mas eu preciso!
- Então fique um pouco mais!
- Impossível, baby! – dizia ele, inabalável. – Meu ônibus parte daqui a dez minutos! Seu eu não me apressar, posso perdê-lo!
- Mas ela te ama, Natanael! Ouça seu coração, rapaz! – desta vez, foi a velhinha quem disse na tentativa de mudar o trágico enredo da história do jovem casal.
Porém, não a ouviram.
- Se você for, eu me mato! – disse a mulher, decidida.
- Ai, meu Deus! – a senhora soltou um grito, horrorizada. - Não vá, Natanael, não vá! – implorava a pobre senhora.
Natanael parecia não ouvi-la.
Contemplou os olhos de Hermengarda com certa piedade.
Dirigiu-se à porta da rua. Voltou-se novamente a ela:
- Talvez seja este o nosso destino... – disse tétrico.
Um choro patético invadiu a sala. Era a velhinha.
- ...Então, que assim seja! – findou o homem.
Saiu calmamente.
A pobre espectadora, que a tudo assistiu sem nada poder fazer, temia agora uma cena aterradora partida da infeliz Hermengarda.
Sentada no chão, a jovem violentada pelo desprezo do homem amado, tinha um olhar sombrio.
Algo sinistro iria acontecer.
O coração da velhinha disparou quando Hermengarda apanhou, na cozinha, uma faca de cortar pão.
- Minha Nossa Senhora Aparecida! – soltou um grito abafado, a velha.
Seus olhos banhados em lágrimas fixavam-se na figura da bela protagonista de um romance com páginas nefastas.
Acalmou-se enfim, quando a voz do locutor anunciava: “A seguir, cenas do próximo capítulo...”
Enxugou as lágrimas...