O TELEFONEMA
O TELEFONEMA
Frederico consultou o relógio na parede. Faltavam quinze para as nove!
- Só faltam quinze minutos para ela ligar! – pensou.
Sentou-se no sofá e ficou a contemplar o telefone esperando passarem aqueles intérminos quinze minutos.
E tic-tac fazia o relógio na parede.
Tic-tac, cinco minutos... Tic-tac, dez minutos... E tic-tac, quinze minutos.
E mais tic-taques. E centenas... Milhares deles.
E passaram-se meia, uma, duas horas!
Seus olhos já estavam miúdos, inchados e mal permaneciam abertos de tanto sono.
E ele olhava o telefone.
Também ficava a imaginar os olhos dela, as mãos dela, os lábios dela, enfim, ele a tinha em pensamentos.
E imaginava que o telefone tocava, mas só imaginava.
E o grito de uma ave noturna... E o tic-tac do relógio... E o pesar das pálpebras...
Dormiu.
E sonhava que ela ligava.
E no sonho, o tic-tac incessante do relógio na parede que, assustadoramente, fazia tic-tac.
E mais tic-taques passaram-se e mais horas passaram-se.
Uma, duas, três horas e alguns tic-taques.
E não eram três, mas quatro horas da madrugada quando junto com os incansáveis tic-taques do relógio na parede o telefone tocou.
Triiiiiiiiinnnnnnnnn....
Triiiiiiiiinnnnnnnnn, fazia o telefone e Frederico acordou.
Assustado, fitou o aparelho.
Novamente o triiiiiiiiinnnnnn do telefone com o tic-tac do relógio.
- É ela! É ela! – gritou, levantando-se.
E correu a atender o telefone, ouvindo os ensurdecedores tic-taques do relógio junto aos batuques do seu coração.
Tirou o fone do gancho:
- Alô! – disse então.
- Quem fala? – perguntou a voz feminina do outro lado.
- É o Frederico.
- Desculpe, foi engano!
- ?....
E junto com os infindáveis tic-taques, ouvia-se nitidamente o túúú-túúú do aparelho.