Homem Sentado

O homem sentou no banco de uma praça em uma pequena e pacata cidadezinha do interior do país. Era um homem completamente desconhecido. Jamais avistado pelos moradores daquele singelo lugar.

Ele acendeu um cigarro e começou a fumar, enquanto observava a vizinhança ao seu redor.

Os idosos que ali jogavam uma partida de buraco pouco deram atenção para a presença do desconhecido cavalheiro, exceto o velhinho gentil e carinhoso que adorava distribuir doces para as crianças do bairro.

A desquitada, que varria a calçada de sua casa, encheu seu coração de esperança ao ver o homem sentado no banco da praça e correu para dentro de sua residência, onde penteou os cabelos e perfumou-se com o seu melhor perfume que guardava para as ocasiões especiais. Logo em seguida voltou para fora, onde passou a observar atentamente aquele homem misterioso.

O adúltero, que estava de saída, mudou de ideia ao avistar o homem sentado e voltou para o aconchego de seu lar, de onde só voltaria a sair no dia seguinte.

O vendedor da loja de artigos importados terminou de atender uma cliente e logo em seguida fechou as portas de seu estabelecimento, alegando que estava prestes a realizar um balanço em seu patrimônio.

A linda donzela, que conversava com sua amiga no portão, foi ordenada a entrar imediatamente em sua casa após sua zelosa mãe notar a presença ameaçadora do forasteiro.

O padre fechou a porta da igreja, algo que não tinha o costume de fazer especificamente naquele horário.

As crianças que estavam na rua continuaram a brincar sem notar a presença estranha do homem.

Uma chuva repentina pegou a todos de surpresa. Os velhos que jogavam buraco correram para as suas casas. A desquitada, frustrada, também entrou. O mesmo ocorreu com as crianças.

O homem, que no banco estava sentado, levantou-se e partiu. Seu nome nunca se soube. Sua origem e seu destino muito menos.

A chuva logo cessou, e a vida naquela cidade voltou a ser como antes. Era uma bela tarde de inverno, onde as tardes e as manhãs se confundiam por expressar as mesmas tonalidades e sensações térmicas.

Apenas o vento soprava mais forte que o de costume naquele momento. Mas aquilo, com certeza, não causou desconforto algum na maioria das pessoas, e nem mesmo trouxe esperança aos corações que clamavam por uma nova oportunidade. A oportunidade de não julgar sem o medo de ser julgado.

Renato A
Enviado por Renato A em 05/05/2017
Reeditado em 06/05/2017
Código do texto: T5990843
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