UMA COZINHA, UM RETRATO DO JEQUITINHONHA
Uma porta apertada feita com uma tábua só.
Do lado direito do batente um feixe de lenha e gravetos que eram usados lentamente para aquecer o fogão.
Na parede só com reboco de terra e capim por entre os bambus, uma prateleira com alguns pratos esmaltados de cor branca em cima de toalhas de pano de sacos de açúcar, passado bico com linhas coloridas fazendo lembrar uma aquarela.
No fogão de lenha, panelas pretas de carvão e gorduras queimadas repousando sobre a trempe.
Um tamborete de madeira com três pernas em cima da taipa do fogão, com algumas palhas de milho em cima.
Noutro canto da cozinha, um pote de barro com água fresquinha e um prato esmaltado servindo de tampa e uma caneca feita com lata de massa de tomate vazia, com alça também de lata feita do folheiro.
Na janela da cozinha, uma banca onde ficava os garfos e colheres de alumínio embaçado.
Atrás da porta, encostada no pilão, uma vassoura feita com galhos de alecrim do campo.
Em cima no canto do telhado das paredes baixas, com o madeiramento todo cheio de picumã, um ninho de canarinho de peito amarelo.
E no canto da taipa do fogão, uma gatinha dormia sem ter tempo para voltar às atividades da caça.
Assim era o retrato que se presenciava na cozinha de uma casinha no alto Jequitinhonha.
É isso aí!
Acácio Nunes