JUÍZO, VERÔNICA!
Danilo era um adolescente e estava apaixonado pela Verônica, sua professora de inglês.
Para ele, ela era a mais bela, mais inteligente e mais sábia de todas as mulheres e muito mais interessante do que as meninas de sua idade.
Ele, que sempre fora estudioso, agora se dedicava ainda mais aos estudos, desejoso de fazer-se especial aos olhos dela.
Verônica percebeu logo a paixonite do garoto e isso a empolgou.
Casara-se cedo e mal. Tinha uma vidinha medíocre, sem qualquer emoção. Nunca sentira nem despertara uma grande paixão, nem mesmo pelo marido. E agora era o alvo do primeiro amor de um rapaz encantador, bonito, inteligente, brilhante!
Isto a emocionava embora, conscientemente soubesse do absurdo de estar correspondendo a esse amor platônico e inconfessável.
Não era mulher de aventuras, muito menos com um garotão feito o Danilo, e recriminava a si mesma:
Juízo, Verônica!
Mas não podia evitar que seu coração batesse mais rápido cada vez que o Danilo passava por ela.
Quando ele foi prestar o vestibular ela, embora escandalizada com a sua própria maldade, desejou que ele não passasse para tê-lo perto de si por mais um ano.
Juízo, Verônica!
Dizia-lhe a razão, mas o coração não lhe fazia eco...
Danilo passou com brilhantismo e foi estudar em uma universidade famosa e distante.
Sua família mudou-se e ele perdeu todo o contato com a cidade e conseqüentemente com a antiga professora.
A vida de Verônica ficou mais vazia e descolorida do que nunca. Não tinha mais nada emocionante e, muitas vezes, lembrava com saudade do seu apaixonado-menino.
Por onde andaria? Será que ainda lembrava dela?
E recriminava-se:
Juízo, Verônica!
Dias sombrios sobrevieram. O marido faleceu. A filha foi fazer um intercâmbio cultural nos Estados Unidos e ela ficou só.
E foi então que resolveu realizar um velho sonho. Fazer uma especialização nos EEUU. Assim ficava mais perto da filha e podia, quem sabe, dar um rumo novo a sua vida.
O que ela não esperava era encontrar no Instituto onde faria o curso, nada mais nada menos que o Danilo!
Ele estava muito diferente e muito mais encantador. Homem feito, bonito, seguro, falando fluentemente o inglês.
Fazia um estágio avançado, era assistente de um dos famosos professores e ministrava aulas para as turmas iniciantes.
De repente, a situação inverteu-se. Ela era a aluna insegura, falando mal, com dificuldade de compreensão e ele o professor que parecia ter conquistado o dom da sabedoria.
Ele mostrou-se muito atencioso com ela, feliz em reencontrá-la.
Ela não tinha mudado muito nos últimos anos. Agora a diferença de idade entre eles parecia muito menor.
Ele foi gentil, ajudou-a a instalar-se e integrar-se na cidade e na escola.
Levou-a passeios para conhecer os pontos turísticos da região e uma esperança começou a brotar no coração de Verônica.
Quem sabe, agora, tudo daria certo?
Achava evidente que ele ainda era apaixonado por ela.
- Juízo Verônica! Não comece a sonhar demais! dizia-lhe a razão...
Mas o coração retrucava que era melhor não ter muito juízo, pois o amor pode ser tudo que quiserem, menos sensato.
E foi então, durante um jantar, que ele fez uma alusão ao passado:
- Você sabia que fui apaixonado por você quando era garoto?
- Claro! Amor não é coisa que se consiga esconder.
Ele riu divertido:
- Talvez devesse pedir-lhe desculpas pelas “coisas” que pensei!
- Imagine! Uma mulher sempre se sente feliz por ser amada.
E, então, veio a bomba:
- Estive falando com a minha namorada sobre você. Contei que era uma antiga professora que reencontrei... só isso!
Riu, malicioso.
Ela pediu-me para levá-la a sua casa no domingo, para almoçar. A família dela é muito legal. São brasileiros. O pai dela é funcionário de uma firma multinacional. Vai ser bom para você conhecê-los.
Verônica pensou que não conseguiria reter as lágrimas, mas, (que remédio?), disfarçou:
- Oh! Sim! Vamos, sim!
Intimamente, porém, já estava pensando em que desculpa daria para não ir.
Fingir-se de doente?
Voltar correndo para o Brasil?
Matar-se?
Mas, é claro que não fez nada disso.
Aquela vozinha interior mais uma vez a advertiu:
- Juízo, Verônica!
E foi ao almoço.
Viu o Danilo ao lado da Shirley, uma menina linda, da idade dele.
Surpreendentemente descobriu que seu amor por ele era outro.
Desejava de todo coração que ele e Shirley fossem felizes juntos, enquanto ela continuaria sendo a velha professora, seu primeiro e ingênuo amor de adolescente.
A visita foi muito agradável. Shirley e os pais eram muito simpáticos.
Estava presente também um tio de Shirley, viúvo, da idade da Verônica, com quem ela conversou muito e descobriu muitas afinidades.
Seu coração começou a entusiasmar-se, mas a razão ponderou mais uma vez:
- Juízo, Verônica!