O Passarinho e o Pequeno Gafanhoto 4

Há, foi um belo dia, um belo período, que depois se tornou no pior dos pesadelos...

Pequena Gafanhota (sim, confesso que Pequeno Gafanhoto na verdade é Gafanhota, sim, do sexo feminino, isso mesmo, me julguem...) um certo dia conheceu o príncipe encantado, ela era uma adolescente meio (meio?) besta eu sei, ela acreditava piamente que isso existia... bem, vou contar do início como foi.

Pequena Gafanhota sempre acreditou muito no que o Grande Prometedor lhe falava, um dia, ele falou para ela que iria realizar o grande sonho dela, ela se derramou em lágrimas, “será que agora vou ser feliz? ” Pensou a pobre Gafanhota. Ela tinha uma amiga, a Senhorita Flor (flores são lindas não é mesmo? Mas tem espinhos...) Senhorita Flor a chamou para dar uma volta, mas Gafanhota sabia que sua mãe não iria deixar, até porque recentemente sua mãe havia descoberto mais uma mentira (se você não está entendendo isso significa que não leu o episódio 3, então pare agora mesmo e vá lá, rhum), mesmo dizendo isso para Flor, a amiga foi lá e pediu para a Senhora Gafanhota deixar a Gafanhotinha sair, e por mais incrível que isso possa parecer, a mãe dela deixou (eita).

Então foi lá Gafanhotinha sair para dar uma volta com Flor, e nesse dia ela conheceu o tal príncipe encantado, há como ele era lindo e gentil, realmente era um príncipe, ele se mostrou muito interessado por Gafanhota, que muito carente (com razão) logo se apaixonou, mas que mal havia nisso? Ele parecia tanto querer o bem dela, querer ver ela feliz... eles começaram a ter um romance, pela primeira vez na vida Gafanhotinha estava sendo tratada daquele jeito, com tanto amor e carinho, “alguém realmente se importa comigo”, pensava ela o tempo todo. Ela se lembrou da promessa do Grande Prometedor, ele disse que iria realizar seu sonho, e seu sonho era exatamente esse, agora fazia sentido sua mãe ter deixado sair mesmo naquelas circunstancias, afinal, quando é para acontecer nada impede, não é?

Ela estava vivendo dias lindos... dias perfeitos,

Pela primeira vez seus sorrisos eram verdadeiros...

Pela primeira vez o brilho nos seus olhos era de felicidade e não de lágrimas...

Pela primeira vez seu coração palpitava alegre...

Pela primeira vez ela sentia que finalmente tudo ia mudar...

Porém, no entanto, todavia, nem tudo estava do modo que devia ser ainda, porque esse romance era algo escondido, sua mãe não sabia, na verdade ela tinha medo (como sempre) da reação da mãe, a mãe não a deixaria namorar, ela sabia, ela disse para ele, mas mesmo assim ele disse que a amava, que esperaria se fosse necessário, que pediria a mão dela em namoro para a sogra Gafanhota, ela tinha medo, mas mesmo assim ele foi lá...

Ao se deparar com o tal do príncipe encantado, a mãe da pequena Gafanhota foi incisiva ao dizer: “NÃO! DE JEITO NENHUM! GAFANHOTINHA SÓ TEM 14 ANOS! ” Mas Pequena Gafanhota tinha uma carta na manga, “MAS MÃE, A SENHORA SEMPRE DISSE QUE QUANDO EU COMPLETASSE 15 ANOS EU PODERIA NAMORAR, DAQUI ALGUNS MESES FAÇO ANIVERSÁRIO! ” Bem, como diz o ditado, contra fatos não há argumentos, aquilo era verdade, então a mãe de Pequena Gafanhota permitiu, mas só quando completasse 15 anos, e para isso faltava 4 meses, que não passariam nunca de tanta ansiedade.

Os dias, semanas, meses foram passando, eles continuavam tendo seu romance “as escondidas”, ele frequentava a casa dela somente aos finais de semana, pois morava longe, e ela não tinha permissão para ir até ele, o amor entre os dois só aumentava, eram tantas declarações, tantas palavras bonitas, tantas atitudes bonitas, uma felicidade que não cabia no peito, Gafanhotinha nunca imaginou sentir aquilo tudo, esse turbilhão de sentimentos, tudo era muito lindo, parecia um sonho, era um sonho.

Tudo estava devidamente preparado para o dia tão esperado, o aniversário de Pequena Gafanhota, ela iria finalmente completar 15 anos, eles poderiam assumir o namoro oficialmente, tinha tudo para dar certo, nada iria dar errado, dias passando, coração e ansiedade à mil, semanas passando, meses... FINALMENTE CHEGOU O GRANDE E TÃO SONHADO DIA...

Pequena Gafanhota fez questão de acordar cedo (aliás acordar não, porque só pessoas que dormem acordam, e naquela noite definitivamente ela não dormiu), tomou um banho demorado, se arrumou, vestiu o vestido que ele mesmo havia comprado para ela usar naquele dia, usou o perfume que ele deu para ela, se maquiou, ficou linda, deslumbrante, ela nunca tinha se arrumado daquele jeito, e pronto, só bastava aguardar seu amado chegar para buscá-la, só que aí, horas e mais horas foram passando, ela já estava preocupada, será que havia acontecido alguma coisa? Ela já estava muito aflita, “cadê o meu príncipe que não aparece? O que está acontecendo? ”, ela tentou ligar para ele várias vezes, e ele não atendia, as horas continuaram passando, lentas, acompanhadas com uma grande dor no coração, “como assim ele não veio? ” Sim, isso mesmo, ele não apareceu, NÃO APARECEU...

Pequena Gafanhota nunca entendeu o que houve naquele dia, mas a dor que ela sentia era a pior de todas, ele era o príncipe dela, aquele que veio salvá-la de tanto sofrimento, e do nada, se tornou o motivo da pior das dores, naquele dia com certeza um pedaço do coração dela foi arrancado, dilacerado, sem dó nem piedade.

De todas as dores, de todos os sofrimentos, de todas as lagrimas,

Aquelas eram as mais amargas...

A que mais doíam...

As que mais cortavam a alma...

As que despedaçavam...

Não consigo mensurar o tamanho daquela dor, mas tente imaginar, Gafanhota sempre esteve sozinha, não podia contar com a mãe, o padrasto era um roubador de inocências, não tinha amigos, escutava constantemente que se morresse não faria falta para ninguém, que poderia não ter nascido, que não era amada, DO NADA, DO ALÊM, alguém aparece e diz para ela TUDO AO CONTRÁRIO!

Arranca dela os sorrisos mais sinceros...

O brilho no olho mais verdadeiro que já existiu na face da terra...

Tira dela toda aquela dor que ela sentia...

Mostra para ela que a partir dali ela não estaria mais sozinha...

Aquele príncipe era tudo que ela tinha na vida, e coração dela já era completamente entregue a ele, e quando ele resolveu não aparecer, ela nunca mais teve seu coração de volta...

Os dias que se passavam, ela ainda tinha um resquício de esperança que ele poderia aparecer, mas nunca apareceu, nunca mais retornou, ela nunca soube o motivo... Pequena Gafanhota que já tinha propensão a ter depressão, teve... aquilo foi a gota d’água, dias e dias se passavam e ela só conseguia chorar, se perguntar o porquê aquilo acontecia com ela, ela pensou sim em “soluções definitivas”, afinal, já não suportava tanta dor, era grande demais, era muito sofrimento, mas dentro dela algo dizia que um dia ele poderia aparecer, por isso nunca concretizou...

O seu relacionamento com a mãe só piorou a partir de então, sua mãe não entendia esse sofrimento, sua mãe fazia questão de falar que ela não merecia ser amada, que ele percebeu a tempo e fugiu, Besourão seu padrasto continuava com sua função de roubar inocências todos os dias, e nada nunca mudou, nada cooperava para que ela permanecesse ali, já bolou muitos planos para cessar definitivamente a sua dor, mas no fundo no fundo não tinha coragem, algo a impedia de fazer isso... “NEM PARA ISSO EU SIRVO, REALMENTE EU SOU UMA MERDA!”

Você deve estar se perguntando se ela chegou a reencontrar o príncipe que se tornou um belo de um sapo algum dia, e sim, Pequena Gafanhota um dia o reencontrou, ela o viu de longe, ele não a viu, ela não teve coragem de chegar perto e perguntar, afinal, quando isso aconteceu já havia se passado 4 anos, 4 anos estes que passou sofrendo, não, NADA MUDOU, TUDO CONTINUOU IGUAL, apesar do coração acelerado, do suor nas mãos, do frio na barriga e da tremedeira nas pernas, Gafanhota preferiu não chegar perto do sapo que tanto a feriu, a ferida continuava aberta, ainda doía, melhor não mexer para não machucar mais...

ATÉ HOJE DÓI.