O Passarinho e o Pequeno Gafanhoto 3
Estive conversando com o Pequeno Gafanhoto e disse para ela, ops, para ele (vamos deixar isso no ar), que talvez as pessoas que estão lendo não estivessem entendendo nada, afinal, a história não começou do início como deve ser, então ele me autorizou a contar um pouquinho da história dele, desde quando era apenas um gafanhotinho...
Pequeno Gafanhoto sempre foi muito solitário, sua mãe se separou de seu pai quando ele nem se entendia por gente ainda, aliás, por gafanhoto, porque é isso que ele é, (apesar disso, o pequeno gafanhoto hoje em dia não guarda nenhuma mágoa do pai, afinal, foi o único que não o magoou, talvez porque tenha sumido e pessoas sumidas não magoam ninguém) dentro de casa era somente ele e sua mãe, que digamos, não era lá um grande exemplo de mãe amorosa, ela era muito ríspida e exigente com o pequeno gafanhoto, nunca disse um "eu te amo" nunca foi amiga,
aquela mãe que conversa sobre tudo,
que apoia,
que ajuda,
que abraça,
que consola,
que acarinha,
que enxuga as lágrimas,
que simplesmente está ali...
na verdade ela só estava ali para brigar, para dizer coisas como "você nunca será feliz na vida", "não sei porque você foi nascer", "você é o maior desgosto que eu poderia ter", "o que eu fiz de errado pra merecer ter você na minha vida" entre outras coisas, como castigos que mais pareciam torturas, por ter feito simplesmente coisas que crianças fazem, (afinal de contas, qual criança não merece apanhar, ficar durante 2 semanas, toda dia, de joelhos em cima da brita, levando cintadas quando desse vontade, até que seu corpo ficasse todo marcado, ouvindo que merecia muito mais que aquilo, que na verdade tinha que agradecer, porque merecia morrer, somente por ter derramado comida no chão, não é mesmo? É obvio que a mãe do gafanhotinho tinha toda razão em fazer tudo aquilo, derramar comida no chão é um absurdo!!!) Sem falar nos xingamentos que me recuso a repetir, dói repetir...
Pequeno Gafanhoto foi criado como filho único apesar de possuir irmãs, uma por parte de mãe que já havia casado e outras por parte de pai, também tinha avós, primos, tias e tios como a maioria dos gafanhotos, porém, nunca teve contato próximo com nenhum, sua mãe também não deixava pequeno gafanhoto sair na rua para brincar com os outros gafanhotinhos que tinha por lá, então ele cresceu sozinho...brincando sozinho...chorando sozinho... sendo seu próprio amigo... tudo sozinho... SOZINHO.
Um dia, a mãe de pequeno gafanhoto conheceu o Besourão, e começou a se relacionar com ele, em pouco tempo estava dentro de casa, já podia ser chamado de padrasto do pequeno gafanhoto, que de início ficou meio receoso, mas depois viu que não era tão ruim assim, Besourão estava fazendo papel de pai, pela primeira vez na vida ele tinha com quem brincar, uma felicidade sem tamanho, finalmente as coisas estão dando certo, só que aí, um belo dia, talvez não tão belo assim, Besourão fez algo terrível (entenda como quiser, provavelmente é isso mesmo que está pensando), e falou pro Pequeno Gafanhoto que ele não podia falar nada pra mãe dele, porque ela ia ficar muito brava com o Gafanhotinho e ele ia apanhar, Pequeno Gafanhoto com medo da mãe, NUNCA contou nada, viveu por anos, anos e mais anos naquela situação, e nada nunca aconteceu... nunca aconteceu... NUNCA ACONTECEU...
A vida foi passando, e as coisas continuavam iguais, com sua mãe, seu padrasto destruidor de inocências, sem amigos, sem felicidade, sem nada, mas aí, chega um dia do pequeno gafanhoto tanto esperava, o dia de entrar na escola, ele tinha a ilusão que lá as coisas seriam diferentes, que lá ele teria amigos, poderia brincar, poderia ser uma criança normal, há, pobre pequeno gafanhoto, nada saiu como ele esperava, as outras crianças achavam ele feio e por isso excluíam ele, ele mais uma vez se viu sem amigos, sozinho, e ouvindo coisas terríveis, mais uma vez, tudo que acontecia em casa, estava se repetindo na escola, a partir daí, pequeno gafanhoto entendeu que talvez tenha nascido para viver isolado, sem ninguém, foi crescendo como um gafanhoto cada vez mais triste, isolado, tímido, fechado, e apesar disso tudo, ainda conseguia tirar boas notas acreditem, menos em matemática, rsrs, esse não era o forte do Gafanhotinho, ele se esforçava mas não conseguia, e sua mãe não entendia, cada vez que ele chegava com uma nota baixa em casa, era mais uma surra, mais um castigo daqueles, mais palavras que dilaceram a alma, PORRA, MAS É SÓ UMA NOTA BAIXA, NÃO PRECISA DIZER QUE NÃO ME AMA POR CAUSA DE UMA CARALHA DE NOTA BAIXA, então, com medo disso tudo, e com razão, pequeno gafanhoto começou a mentir em relação as suas notas em matemática e todo tipo de matéria que envolvesse números e raciocínio lógico, claro que era em vão, porque mais cedo ou mais tarde sua mãe descobria as mentiras, aí já podem imaginar o que acontecia, mas isso não impedia o Pequeno Gafanhoto de continuar mentindo, afinal, ia apanhar de qualquer jeito, então quanto mais conseguisse adiar melhor, com o tempo ele foi mentindo para outras coisas, tudo isso por causa do medo que sentia, no fundo ele não tinha culpa, era apenas uma criança querendo se livrar de uma tortura, logo pegou a fama de mentiroso, de filho ingrato, mal sabiam as criaturas a sua volta o que ele passava dentro de casa, por fora a vida era muito linda, uma mãe batalhadora tentando dar o melhor pro seu filhinho que é mal agradecido, ela tinha a audácia de falar “eu te amo” pros filhos dos outros acredita? Aquilo deixava pequeno gafanhoto furioso.
Mas só ele sabia o que ele passava,
Só ele sabia da sua dor,
Das suas lágrimas,
Dos seus falsos sorrisos,
Do quanto ele era injustiçado...
Pequeno Gafanhoto cresceu e se tornou adolescente, eita que aí a porra ficou séria, além dos outros títulos que carregava consigo, agora também era o filho rebelde,
Será que ninguém percebia os gritos de socorro que ele estava dando?
SERÁ?
Será que ninguém notava que isso tudo era uma tentativa de conseguir a atenção, amor, carinho, compreensão, apoio, ajuda que ele tanto precisava?
SERÁ?
Nem ele mesmo sabia, mas era exatamente isso, somente isso, mais nada...
Um dia, nada belo, aliás foi belo sim, há como aquele dia foi belo, Pequeno Gafanhoto só não podia imaginar que aquela beleza toda daquele dia ia se tornar na pior das dores, foi o dia que... melhor não contar agora, isso vai ficar para a próxima história... continua... (isso se o Pequeno Gafanhoto ouvir o recado que uma amiga deu a ele por mim, dizendo que tudo dará certo, que tudo vai passar, e não fazer uma besteira, que na cabeça dele não é tão besteira assim, mas tudo bem... eu dei seu recado viu fulana, espero que ele escute, porque ultimamente ele anda meio desacreditado da vida).