Uma fogueira, um grito e uma pequena mentira que foi crescendo
Danilo, Manuela, Abbi, Erik e Rocco se sentaram em volta da fogueira após a janta enlatada pronta, ideal para seus acampamentos mensais. Rocco parecia perturbado, mordia a pele de seu lábio inferior e, ocasionalmente, suas unhas.
“Rocco, você está bem?”, perguntou Abbi.
“É cara, você parece meio perturbado...”, comentou Danilo.
“O quê? Ah. Não, não. Eu estou bem, está tudo bem...”, respondeu Rocco depois de alguns segundos de confusão. “Enfim, onde estão aqueles marshmallows?”, perguntou Rocco, em uma tentativa – bem sucedida – de mudar de assunto enquanto se levantava e ia em direção à cabana.
Rocco voltou com cinco palitos de churrasco e dois sacos grandes de marshmallows que haviam comprado na mesma manhã. Depois de distribuir os palitos, interrompendo sutilmente a conversa entre os outros, Rocco se sentou ao lado de Danilo em um dos troncos em frente à fogueira e colocou um marshmallow em seu palito. Até então, as coisas estavam indo bem, eles se esqueceram do assunto e falavam sobre o cachorro de Manuela e Erik, até que...
“Poxa, que pena que a Camila não pôde vir...”, disse Danilo depois de uma, aparentemente, curta pausa do cachorro de Manuela.
“Hã? É... uma pena...”, respondeu Rocco, ainda confuso.
“Desculpa, mas, por que ela não pôde vir mesmo?”, perguntou Manuela.
“Ela, hã... ela...”, gaguejou Rocco.
“Ela tem que acordar cedo amanhã, não é?”, disse Abbi, olhando para Rocco e levantando uma sobrancelha.
“O quê? Ah. É. Ela tem que trabalhar amanhã no, hã... escritório e ela tem que acordar cedo, vocês sabem, mulheres e... trabalho.”, respondeu Rocco olhando para baixo e tentando sorrir.
“Bom, de qualquer jeito, é uma pena.”, terminou Danilo.
Os cinco continuaram a esquentar e comer os marshmallows com constantes e longas pausas entre comentários sobre assuntos diversos, todos em uma tentativa –falha – de iniciar uma conversa.
Depois de alguns minutos, Rocco pediu licença e entrou na cabana, com esperanças de ter um pouco de paz e, pelo menos, um minuto de silêncio. O que ele não conseguiu. Ele nunca consegue.
“Rocco?”, chamou Abbi.
“O que foi?!”, respondeu Rocco em um grito. “Desculpa. Oi, Abbi.”, disse Rocco mais calmo.
“Tudo bem eu entendo. Mas você sabe que, em algum ponto desse nosso acampamento, você vai ter que contar para eles, né?”,
“Mas... eu tenho que? Assim... eles não precisam saber... precisam?”, perguntou Rocco, já cansado disso tudo.
“Sim, Rocco, eles precisam. Eles são seus amigos e da Camila.”
“Sabe, acho que eles são só meus amigos por causa da Camila... Mas também acho que você está certa. Eles merecem saber.”, disse Rocco depois de um longo suspiro.
Abbi abraçou Rocco sem avisos. Ele não gostava disso. Ela sabia que ele não gostava disso. Mas, mesmo assim, ela o abraçou. E somente dessa vez, Rocco a perdoou pelo abraço repentino, talvez ele até tenha gostado daquele abraço.
Saindo da cabana, Rocco começou a suar ao ver os três pares de olhos em sua direção, e, como sempre, ele gaguejou.
“Oi, gente. Hã... Erik, Manuela, Danilo. Eu, hã... preciso falar uma coisa. Hã... a Camila, hã... Camila não veio hoje porque...”. Rocco parou e fitou os olhos de cada um deles, todos preocupados e curiosos. Rocco se endireitou, limpou a garganta e, como se estivesse vomitando palavras, disse: “Camila não veio hoje porque ela me deixou. Camila... me deixou.”
“Então... você mentiu para a gente?”, perguntou Erik.
“Eu acabei de falar que minha namorada me deixou e você se importa que eu menti sobre isso?”, disse Rocco incrédulo. “E não... eu não menti. Ela realmente tem que trabalhar amanhã, eu vi a agenda dela ontem à noite...”, terminou Rocco com um suspiro.
“Sabia que ela ia fazer alguma coisa assim...”, disse Manuela, dando de ombros, antes de dar mais um gole de sua cerveja.
“Como... como assim?”, perguntou Rocco, confuso novamente.
“Acho que todos previmos que ela iria fazer alguma merda, mais cedo ou mais tarde...”, confessou Danilo. “Mas, hã... sinto muito cara, eu sei que você gostava dela.”
“Mesmo todos nós odiando ela...”, disse Manuela, dando outro gole de sua cerveja e revirando os olhos.
“Eu nunca estive tão confuso.”, disse Rocco, que estava, realmente, muito confuso.
“A gente nunca gostou dela. Só fingíamos porque você gostava dela. Mas né, o amor é cego...”, disse Erik.
“E pelo jeito, surdo.”, completou Manuela.
“Ok, Manu, vamos dar uma pausa nos seus comentários maldosos, Rocco está realmente triste.”, disse Abbi.
“Na verdade, não. Não estou tão triste assim. Estou mais para confuso. Como sempre...”, confessou Rocco se sentando novamente no tronco e abrindo uma garrafa de cerveja.
“Bom, nesse caso... um brinde à honestidade!”, disse Abbi, enfim, abrindo outra cerveja e juntando o gargalos às outras garrafas de seus amigos, em um tinido já bêbado.