Depoimento
Deixo aqui registrado, lembranças de minha mãe:
Maria Vitória. De acordo com todas pessoas que a conheceram, as opiniões são quase unânimes:
Dona Maria Vitória era enérgica, muito bondosa, mas se pisassem no seu calo, ah!...
Mas volto a repetir e creio que muita gente também: relatos sobre Maria Vitória, são muito interessantes, devem ser contados, muitas mensagens magníficas podem servir de exemplos para nós simples mortais.
Quantas pessoas ao conversarem comigo comentavam:
--- Sua mãe, é católica até no fundo d'água, não é?
Realmente ela pegava no nosso pé:
--- Não tem nada de moleza, você vai ter que ir à missa sim. Enquanto vocês forem crianças aos meus cuidados, não vão deixar de irem à igreja.
Eu me lembro de que uma vez, cheguei nela e disse:
--- Mãe, estou namorando, e desta vez parece que é pra valer!
--- Há, é, meu filho, que bom!
--- Mas, eu devo comunicar pra senhora de que ela é evangélica.
Senti que minha mãe engoliu seco... mas ela nunca deixava pra depois, logo me disse:
--- Que denominação ela frequenta?
--- A igreja Presbiteriana, mãe.
--- Então está bom, a igreja Presbiteriana é uma das igrejas unidas com a nossa.
Respirei aliviado, pensei:
--- Desta eu passei!...
Mas as pessoas sempre alfinetavam, diziam pra minha futura esposa:
--- Você tem certeza que quer casar mesmo? Olha que a dona Maria Vitória é muito católica!
Mas vinha a resposta taxativa:
--- Eu não vou casar com ela, vou casar com o filho dela!!!
Estava decidido, ia mesmo me casar, só que concordei de ser na igreja Presbiteriana.
Comuniquei à dona Maria Vitória, ela de imediato disse:
--- Você sabe, meu filho, que pode ser um casamento ecumênico, não sabe? Se convidar o Frei Osmar ele irá, porque ele é um padre aberto ao ecumenismo!
--- Está bom, mãe. (convido sim, convido não... Acabei não convidando) O casamento foi na igreja evangélica. Minha mãe foi, até que gostou, mas continuava dizendo:
--- Frei Osmar, me tranquilizou, o casamento foi abençoado por Deus. Há, e ele me falou que se tivesse sido convidado ele iria! E eu vou te falar, Lourenço, eu queria que você seguisse sua religião direito, ou então deves seguir a religião de sua esposa.
As opiniões pessimistas da guerra fria entre dona Maria Vitória e minha esposa Neyde, não se concretizaram, as duas eram como mãe e filha, dava pra notar o carinho entre as duas. Lógico que elas evitavam o embate sobre suas convicções. Um fato que pra mim foi muito emocionante:
Um dia voltava do serviço, já era noite. Encontro minha mãe na minha casa. Eu pergunto:
--- Aonde está minha mulher?
--- Há, meu filho, cheguei aqui na sua casa, perguntei pra Neyde: - você não vai na sua igreja?
--- Bem que eu queria, dona Maria, porque hoje é dia da Santa Ceia, eu não gosto de perder.
--- Você vai, eu fico com as crianças até o Lourenço chegar. Imagine, você não ir! Eu te compreendo, porque também na minha igreja, o Jesus Eucarístico é um tesouro inigualável!
Eu falei: -- Nossa, quanta fé, em duas cristãs separadas!
Separadas não, meu filho, é o milagre do Jesus Eucarístico, que está em cada coração de quem o ama!!!
Hoje, 02/04/2017...
Em 2010, minha mãe falece... mas suas histórias ficam.