Vencendo a Barra no Carnaval
- Praia da Barra, Tramandaí, mãe! Aqui está um sol divino. A praia está como nunca vi antes.
- Tá certo, estou com internet ruim aqui, mas quando eu voltar para casa, eu vou colocar as fotos no Face sim.
- Eu falo pra ela, mãe. Tá bom, pode deixar! Um beijo, amém. Você também.
- Paula, minha mãe te mandou um beijo!
- Oh, querida! Você vai pra praia agora pela manhã?
- Vou sim! Já estava me arrumando quando ela me ligou.
- Eu te espero. E aquele rapaz do bar de ontem, te ligou já?
- Bah, acredita, me mandou "Bom-dia" no Whatts e me perguntou se hoje vou aparecer por lá de novo ou se vou a outro lugar...
- E o que tu disse?
- Ainda não disse.
- O que tu achou dele?
- Não sei. Esses caras de barzinhos de praia no Carnaval... Não dá pra se apegar.
- Mas quem falou em se apegar? Tô falando em pegar!
- Acho que tô carente demais pra pegar sem me apegar. Esses caras adoram iludir, principalmente se percebem carência, e se não percebem, parecem que forçam até aparecer uma ponta de sentimento para depois caírem fora!
- Credo, Joana, desse jeito tu vai ficar sozinha pra sempre! Isso já é psicose. Tem cara que é assim, mas nem todos. Assim como também tem mulheres que são sacanas, nós não somos.
- Ah, mas não sei. Não me sinto à vontade ainda. Tô pronta, vamos?
-Olha só, o Beto! "Onde tu está agora?"
-É o cara de ontem?
-É.
-Responde pra ele, sua boba! Aproveita! Se der merda, deu; mas vai que dá boa coisa, tu só vai saber se tentar.
Nervosa, Joana digitava e apagava, acabou por quebrar um pedaço de sua impecável unha bordô.
-"Estou na praia da barra. Próximo ao quiosque."
-"Posso te encontrar aí, de boa?"
- Ele quer me encontrar aqui!
- Lógico, se não ele não ia perguntar onde tu estava, né!
-"Pode."
-"Já estou chegando aí."
Joana tirou o chapéu e começou a sacudir os longos cabelos ruivos, arrumou o biquíni em seu corpo de mulher normal de 30 e poucos, respirou para acalmar o coração, de repente sentiu formar uma longa sombra ao seu lado, era ele. Beto, sentou-se ao seu lado, beijou-lhe o rosto, cumprimentou Paula e começou a conversar com Joana. Ela, meio sem graça, ainda tremia um pouco enquanto conversam.
-Jô, vamos caminhar um pouco?
Joana não sabia o que responder, sua insegurança era enorme. Olhou para Paula como se lhe pedisse autorização.
-Vai, pode ir, sem problemas, fico aqui cuidando as bolsas!
E sem ter como fugir, Joana aceitou a forte mão de Beto e se levantou, colocou seu shorts e com ele seguiu à beira mar.
- Gostei de ti, Joana!
-...
- Gostaria de te conhecer mais!
- Como tu pode ter gostado de mim se mal conversei contigo?
- Sei-lá, algo de energia. Não sei explicar. Simpatia. Empatia. Química.
- Tá.
- Tu é desconfiada pra caramba, heim?
- Nem é desconfiança. É que já ouvi tanta coisa na vida...
- Mas nem todo mundo é igual e nem todo mundo fala a mesma coisa com a mesma intenção.
- Espero que agora seja diferente, porque também quero te conhecer melhor.
E de súbito, Beto a inclinou e Joana se deixou beijar. Passaram a caminhar abraçados. Joana sentia seu coração fibrilar. Sentia-se insegura, temia estar parecendo boba ou fácil demais, ou difícil demais, ou louca demais, ou qualquer coisa demais; mas que se dane é Carnaval! O que não der certo aqui virará cinza na quarta-feira!
- Onde tu mora, mesmo?
- Viamão, e tu Beto?
- Eu também moro em Viamão, moro na Santa Isabel!
- Bah, moro no Beco dos Soares.
- Se tu quiser, a gente pode sair por lá também!
- A gente vê!
- Tu trabalha com quê?
- Sou professor de Química.
- Jura? Onde tu dá aula?
- Por enquanto, no Walter. E tu, o que tu faz?
- Tu não vai acreditar?
- O quê? Não vai me dizer que...
- Sou professora de Física!
- Ah tá! E onde é que tu dá aula?
- No Tolentino.
- Menos mal, já pensei que tinha chego no Walter e pego Física e Química e tudo o mais!
- Capaz, tenho horror à Química! Mas já tive que pegar pra fechar carga horária.
- Tu não quer almoçar?
- Até quero, mas não posso deixar a Paula na mão, ela está empenhada com as bolsas e cadeiras lá perto do quiosque, esqueceu?
- É verdade, a gente pode pedir porção de peixe e comer com ela lá, o que acha?
- Pode ser.
Joana estava começando a se soltar um pouco quando começou a encontrar pontos em comum com seu pretendente.
Continuaram a conversar, mas Joana tinha que testar! Pegou o celular, conectou na caixa de som, e largou seus rocks! Não é que o moço curtiu e conhecia todas as músicas?! Isso a encantou. E começou a conquistá-la quando ele lhe mostrou sua seleção em seu celular: Muito rock! Ela estava fascinada!
Agora, o encanto foi maior quando viu seus aplicativos, eram aplicativos de leitura: o moço gostava de ler! E começaram a conversar sobre livros. Paula ria por dentro. Para quem estava com medo de se envolver, Joana tinha cara de quem já ia pedir o moço em casamento.
A porção chegou, almoçaram, riram muito de muitas coisas. O sol se pôs. Foram cada um para seu apartamento.
-Paula, tu tinha razão, o cara é incrível e sabe que ele mora na Santa Isabel? É professor? Caramba!
- Nossa!
- É, mas está perfeito demais. Deve haver algum defeito. Deve haver algum problema aí, não é possível!
- Calma, Joana. De repente, não tem. Às vezes, é só um cara legal, o cara certo. Vai devagar, observa, pergunta, investiga, tudo devagar e a seu tempo.
- É verdade. Vai que não tenha mesmo nada de errado, né?
"Vamos para o Centro ver o Carnaval?"
"Vamos"
"Posso te pegar aí?"
"Pode"
"..."
- Paula, vou para o Carnaval de rua com o Beto.
- Vai sim e aproveita! Qualquer coisa me liga. Tu já olhou o Face dele?
- Já olhei sim, o cara parece de verdade! -Com os olhos brilhando-
- Que bom!
- Que noite linda, Joana!
- Linda mesma, Beto!
- Tu já jantou? Quer jantar?
- Não jantei ainda?
- Vamos comer alguma coisa?
- Pode ser.
- Tu gosta de quê?
- Sei-lá... Qualquer coisa, menos xis.
- Certo, come sushi?
- Adoro!!!
- Ou prefere frutos do mar?
- Nossa, isso é crueldade! Não sei escolher assim. Escolhe tu.
- Tá, então sushi e depois sorvete.
- Feito.
E assim Joana e Beto foram indo até o final do Carnaval, e das cinzas fizeram pegadas para novos encontros. Beto realmente era o cara certo para Joana nesse momento, quase que seu medo lhe fez perdê-lo.
Meses depois:
- Amor, novidades!
- Novidades?
- Sim!
- Físicas ou Químicas?
- Físicas, Químicas e Biológicas!
- ...
- Você vai ser papai!
- Jura!!! Isso é Divino!
E logo começaram a organizar o casamento, a casa, o quartinho e o chá de bebê. Joana mudou a sua vida no Carnaval de 2017 na praia da Barra de Tramandaí, onde a coragem de conhecer alguém venceu o medo de se decepcionar com velhas imagens projetadas em novas personagens!
- Praia da Barra, Tramandaí, mãe! Aqui está um sol divino. A praia está como nunca vi antes.
- Tá certo, estou com internet ruim aqui, mas quando eu voltar para casa, eu vou colocar as fotos no Face sim.
- Eu falo pra ela, mãe. Tá bom, pode deixar! Um beijo, amém. Você também.
- Paula, minha mãe te mandou um beijo!
- Oh, querida! Você vai pra praia agora pela manhã?
- Vou sim! Já estava me arrumando quando ela me ligou.
- Eu te espero. E aquele rapaz do bar de ontem, te ligou já?
- Bah, acredita, me mandou "Bom-dia" no Whatts e me perguntou se hoje vou aparecer por lá de novo ou se vou a outro lugar...
- E o que tu disse?
- Ainda não disse.
- O que tu achou dele?
- Não sei. Esses caras de barzinhos de praia no Carnaval... Não dá pra se apegar.
- Mas quem falou em se apegar? Tô falando em pegar!
- Acho que tô carente demais pra pegar sem me apegar. Esses caras adoram iludir, principalmente se percebem carência, e se não percebem, parecem que forçam até aparecer uma ponta de sentimento para depois caírem fora!
- Credo, Joana, desse jeito tu vai ficar sozinha pra sempre! Isso já é psicose. Tem cara que é assim, mas nem todos. Assim como também tem mulheres que são sacanas, nós não somos.
- Ah, mas não sei. Não me sinto à vontade ainda. Tô pronta, vamos?
-Olha só, o Beto! "Onde tu está agora?"
-É o cara de ontem?
-É.
-Responde pra ele, sua boba! Aproveita! Se der merda, deu; mas vai que dá boa coisa, tu só vai saber se tentar.
Nervosa, Joana digitava e apagava, acabou por quebrar um pedaço de sua impecável unha bordô.
-"Estou na praia da barra. Próximo ao quiosque."
-"Posso te encontrar aí, de boa?"
- Ele quer me encontrar aqui!
- Lógico, se não ele não ia perguntar onde tu estava, né!
-"Pode."
-"Já estou chegando aí."
Joana tirou o chapéu e começou a sacudir os longos cabelos ruivos, arrumou o biquíni em seu corpo de mulher normal de 30 e poucos, respirou para acalmar o coração, de repente sentiu formar uma longa sombra ao seu lado, era ele. Beto, sentou-se ao seu lado, beijou-lhe o rosto, cumprimentou Paula e começou a conversar com Joana. Ela, meio sem graça, ainda tremia um pouco enquanto conversam.
-Jô, vamos caminhar um pouco?
Joana não sabia o que responder, sua insegurança era enorme. Olhou para Paula como se lhe pedisse autorização.
-Vai, pode ir, sem problemas, fico aqui cuidando as bolsas!
E sem ter como fugir, Joana aceitou a forte mão de Beto e se levantou, colocou seu shorts e com ele seguiu à beira mar.
- Gostei de ti, Joana!
-...
- Gostaria de te conhecer mais!
- Como tu pode ter gostado de mim se mal conversei contigo?
- Sei-lá, algo de energia. Não sei explicar. Simpatia. Empatia. Química.
- Tá.
- Tu é desconfiada pra caramba, heim?
- Nem é desconfiança. É que já ouvi tanta coisa na vida...
- Mas nem todo mundo é igual e nem todo mundo fala a mesma coisa com a mesma intenção.
- Espero que agora seja diferente, porque também quero te conhecer melhor.
E de súbito, Beto a inclinou e Joana se deixou beijar. Passaram a caminhar abraçados. Joana sentia seu coração fibrilar. Sentia-se insegura, temia estar parecendo boba ou fácil demais, ou difícil demais, ou louca demais, ou qualquer coisa demais; mas que se dane é Carnaval! O que não der certo aqui virará cinza na quarta-feira!
- Onde tu mora, mesmo?
- Viamão, e tu Beto?
- Eu também moro em Viamão, moro na Santa Isabel!
- Bah, moro no Beco dos Soares.
- Se tu quiser, a gente pode sair por lá também!
- A gente vê!
- Tu trabalha com quê?
- Sou professor de Química.
- Jura? Onde tu dá aula?
- Por enquanto, no Walter. E tu, o que tu faz?
- Tu não vai acreditar?
- O quê? Não vai me dizer que...
- Sou professora de Física!
- Ah tá! E onde é que tu dá aula?
- No Tolentino.
- Menos mal, já pensei que tinha chego no Walter e pego Física e Química e tudo o mais!
- Capaz, tenho horror à Química! Mas já tive que pegar pra fechar carga horária.
- Tu não quer almoçar?
- Até quero, mas não posso deixar a Paula na mão, ela está empenhada com as bolsas e cadeiras lá perto do quiosque, esqueceu?
- É verdade, a gente pode pedir porção de peixe e comer com ela lá, o que acha?
- Pode ser.
Joana estava começando a se soltar um pouco quando começou a encontrar pontos em comum com seu pretendente.
Continuaram a conversar, mas Joana tinha que testar! Pegou o celular, conectou na caixa de som, e largou seus rocks! Não é que o moço curtiu e conhecia todas as músicas?! Isso a encantou. E começou a conquistá-la quando ele lhe mostrou sua seleção em seu celular: Muito rock! Ela estava fascinada!
Agora, o encanto foi maior quando viu seus aplicativos, eram aplicativos de leitura: o moço gostava de ler! E começaram a conversar sobre livros. Paula ria por dentro. Para quem estava com medo de se envolver, Joana tinha cara de quem já ia pedir o moço em casamento.
A porção chegou, almoçaram, riram muito de muitas coisas. O sol se pôs. Foram cada um para seu apartamento.
-Paula, tu tinha razão, o cara é incrível e sabe que ele mora na Santa Isabel? É professor? Caramba!
- Nossa!
- É, mas está perfeito demais. Deve haver algum defeito. Deve haver algum problema aí, não é possível!
- Calma, Joana. De repente, não tem. Às vezes, é só um cara legal, o cara certo. Vai devagar, observa, pergunta, investiga, tudo devagar e a seu tempo.
- É verdade. Vai que não tenha mesmo nada de errado, né?
"Vamos para o Centro ver o Carnaval?"
"Vamos"
"Posso te pegar aí?"
"Pode"
"..."
- Paula, vou para o Carnaval de rua com o Beto.
- Vai sim e aproveita! Qualquer coisa me liga. Tu já olhou o Face dele?
- Já olhei sim, o cara parece de verdade! -Com os olhos brilhando-
- Que bom!
- Que noite linda, Joana!
- Linda mesma, Beto!
- Tu já jantou? Quer jantar?
- Não jantei ainda?
- Vamos comer alguma coisa?
- Pode ser.
- Tu gosta de quê?
- Sei-lá... Qualquer coisa, menos xis.
- Certo, come sushi?
- Adoro!!!
- Ou prefere frutos do mar?
- Nossa, isso é crueldade! Não sei escolher assim. Escolhe tu.
- Tá, então sushi e depois sorvete.
- Feito.
E assim Joana e Beto foram indo até o final do Carnaval, e das cinzas fizeram pegadas para novos encontros. Beto realmente era o cara certo para Joana nesse momento, quase que seu medo lhe fez perdê-lo.
Meses depois:
- Amor, novidades!
- Novidades?
- Sim!
- Físicas ou Químicas?
- Físicas, Químicas e Biológicas!
- ...
- Você vai ser papai!
- Jura!!! Isso é Divino!
E logo começaram a organizar o casamento, a casa, o quartinho e o chá de bebê. Joana mudou a sua vida no Carnaval de 2017 na praia da Barra de Tramandaí, onde a coragem de conhecer alguém venceu o medo de se decepcionar com velhas imagens projetadas em novas personagens!