Família
Do meu quarto sentia o cheiro de café preparado pela minha mãe exalando seu aroma forte e, ao mesmo tempo, suave. Era o anuncio de que chegava um novo dia. E eu deveria ser como o café, forte - para encarar a correria; suave - para não me perder de vista nela. Aos primeiros passos que dava ao me levantar da cama, daquele quarto escuro sem janela, podia ver os raios de sol da manhã invadindo as gretas do telhado, isso era possível porque não tínhamos forro em casa. Na verdade, nunca precisamos ter. Tínhamos o amor em nossa lar simples e humilde e isso era o laço-mor que nos unia em família. O combustível que nos fortalecia como o sol que, embora nem todos os dias se mostrava - porquanto o tempo se fazia de chuva ou nublado - mas sempre estava lá, escondido por detrás das nuvens. Assim era o amor que nos enlaçava. Havia dias que, como em qualquer família, a gente não se dava bem. Ora eu e minha mãe, ora eu minha irmã, ora ambos. E o aspecto da casa, em tais dias, era como aqueles nos quais o sol faltava. Contudo, no fim das contas, o amor nunca precisou se impor ou demandar lugar, pois simplesmente era e se fazia presente entre nós, clareando nossa família nos dias de dificuldade e luta, fazendo brotar sorrisos nos rostos de nossa mãe a cada vitória por mim ou pela minha irmã alcançada. Tal qual o sol que se guardava cuidadosamente entre as camadas sobrepostas de nuvens em dias nublados ou de chuva, era o amor que nos unia. Resguardara para si o direito de ficar escondido no mais íntimo de nossos corações, para logo após dias chuvosos ou nublados que vivêssemos, ele aparecer naturalmente. O amor era como o sol que eu via da janela da cozinha, cujos raios traziam claridade àquela simplória casa, e aqueciam os corpos que davam passos dentro dela com a energia necessária para encararmos mais um dia em família, fosse de luta ou alegria. O amor sempre foi o sol que nos uniu, aquecendo e iluminando o nosso lar.