O OBSERVADOR

Dia após dia, a mesma coisa...

Outra tarde sufocante debaixo de um telhado precário, sob um céu enegrecido pelas fumaças das fábricas que assassinaram meu pai, aqui me pego tentando transferir meus sentimentos para outra folha em branco, tentando estancar minha dor.

Acometido por uma terrível poluição sonora, as vítimas do sistema controlador se divertem destruindo seus fígados, pulmões e mentes enquanto suas almas são consumidas pelo não-tardio fim, caro leitor não estou sendo duro ou pessimista, estou sendo realista.

Nesta tenra e sufocante tarde estou dividindo meu tempo entre pensamentos suicidas e a procura por minha mãe, ela não é diferente dos casos já citados, porém é a mulher mais forte que já conheci, isso até meu pai ir antes dela. Mentes bagunçadas. No fim, todos conhecem para onde suas ações podem leva-lo, minha mãe é forte mas ela também é uma vítima junto com o senhor Mackenzie, ele tem duas filhas, uma linda esposa e um terrível hábito de gastar tudo o que ganhava em bares e festas.

Outro dia a polícia o levou, ele agrediu a pobre mulher, além do velho “perfume” de uísque escocês, naquele dia ele também fedia a maconha, eu e mamãe observávamos a tudo com medo, dois dias após ser libertado, eu encontrei o pobre alcoólatra prometendo mudar, um mês depois ele foi parar no hospital, dois anos depois no cemitério, a bebida destruiu seu fígado.

Minha mãe continua aqui, tenho medo de que ela não tome o exemplo de nosso vizinho, ela parou por enquanto, mas tudo o que fazemos, bom ou ruim, gera consequências, um dia os anos de conversas em frente aos balcões dos bares poderão cobrar seu preço...

Mas tantas pessoas estão indo embora...

Para minha mãe e senhor Mackenzie, amigo era qualquer um que lhes oferecesse um copo de uísque, algumas pessoas mudam, mas outras continuam na mesmice se deixando levar pelo sistema...

Dia após dia, é a mesma coisa...