Caneta e lápis

A universidade havia comprado um plotter Calcomp 565 para o minicomputador IBM 1130 do Departamento de Ciências Aplicadas, e os alunos podiam agendar uma hora para uso, pagando uma taxa pelo acesso ao equipamento e material utilizado (basicamente, papel de impressão, fornecido em rolos de 37 m). A maioria dos que se inscreveram eram alunos de arquitetura, engenharia e física, algo bastante compreensível, mas para nossa surpresa, uma aluna de Artes Plásticas requisitou tempo no sistema.

- Deve ser para gerar pontos de crochê pelo computador - ironizou o encarregado do CPD.

Mas não se tratava disso, como nos disse Irena, a estudante de artes. Uma ruiva sardenta, de nariz arrebitado.

- Vocês ainda não ouviram falar em arte gerada por computador?

Não, nunca havíamos ouvido.

- Tivemos um simpósio em Zagreb ano passado, só sobre o assunto - disse ela, com ar de superioridade.

Faziam simpósios sobre arte por trás da Cortina de Ferro?

- Estamos mais avançados do que vocês em muitos campos, inclusive do ponto de vista artístico - disparou ela à queima-roupa.

Íamos responder que os soviéticos não haviam posto um homem na Lua, mas felizmente alguém lembrou que a Iugoslávia não fazia parte da União Soviética.

- Vocês podem ser bons desenhando à caneta pelo computador. Quero ver desenharem à lápis - desafiou o encarregado do CPD.

Irena não se fez de rogada. Abriu seu portfólio de capa vermelha e nos exibiu belos desenhos. Todos feitos à lápis.

- Algo mais? - Indagou, sorrisinho no canto da boca.

O encarregado do CPD fez uma vênia, indicando o teclado do console do 1130:

- É todo seu.

[06-03-2017]