Poeira ao vento

Poeira ao vento

Ela lembrou-se do refrão da musica “... poeira ao vento, tudo o que somos é poeira ao vento...”. Fechou os olhos compassivamente e deixou o vento levar suas lembranças em tempo de ouvir o pio surdo de uma ave noturna. A brisa fria carregada de vapor tocava sua pele de forma insistente e abrasiva. Pequenos grãos de areia voavam pela praia quase em redemoinho, lembrando seus sonhos errantes e confusos. Somos apenas aquilo que o destino nos deixa ser, nem mais nem menos. Ela não era tão determinista e conformada assim, mas os últimos acontecimentos mostraram-lhe que nada podia ser feito, quando tudo parecia ser de uma forma concluída e inexorável. Desejou dormir ali ouvindo o som da água batendo forte nas rochas, o som surdo quem sabe, a fariam esquecer e por fim dar-lhe um pouco de sossego. Sabia, no entanto que nada dura para sempre. Nem o para sempre não dura para sempre. Tudo se vai e tudo se acaba, mesmo que não aceitemos essa verdade, não faz diferença por que a eternidade são momentos que conseguimos guardar na memoria, até a própria memória se acabar. Suas lembranças não seriam eternas, um dia ela aprenderia a ser seletiva com elas, guardaria apenas as que mais lhe fossem caras, aquelas que de uma forma ou outra conseguissem deixar vivas as coisas que se foram e que ela sabia que jamais voltariam. Aquele era um de seus momentos mais reais onde tomava consciência de si e do fato de não poder mudar nada sem comprometer seu próprio futuro. Sua vida tinha sido até então, um mar interminável de muita coisa boa e ruim, alegrias, tristezas, ganhos e perdas. As alegrias eram poucas, mas ela sabia que eram verdadeiras e lindas, as tristezas, essas faziam parte de qualquer existência, o ser humano tinha a tendência natural a ser em vários momentos e fases da vida triste, e, por fim os ganhos e perdas eram pratos de uma mesma balança que hora pendiam a perda oram pendiam aos ganhos. Sabia que o tempo daria conta de enevoar tudo que não fora bom, abriu os olhos e tirou as sandálias. Andaria algum tempo ao longo da praia, molharia os pés e deixaria as ondas levarem de volta ao mar tudo que ela não desejava que ficasse mais com ela. Voaria cada vez mais alto, não se importando com medos e reticências, pois somente assim poderia chegar novamente perto das estrelas e não chorar mais.

Malibe

23.02.2017