CADÊ AS CANDEIAS QUE ESTAVAM AQUI?

Antigamente no meu povoado, que surgiu no meio da mata e do cocal de babaçu, havia mata de candeias. O senhor Manoel Benedito me falou de como era aquela natureza, não tinha essa modernidade de hoje, energia elétrica, água encanada, telefone e nem estradas para andar. A luz que usávamos a noite era da lamparina à querosene e a água íamos pegar na fonte, lá no olho d’agua no Coco Virgem que era um beleza! Mas o tempo foi passando e a nascente foi secando.

Olho d’agua é assim se roubar pra plantar em outro lugar a nascente seca. Foi isso que aconteceu. O Sr. Sambaíba fez isso, dizem os mais velhos daqui. Ele com suas ciências, pegou a cuia virgem de cujuba, como dizem os mais velhos, que só dar certo se for assim. Num certo dia à meia noite roubou o olho d’agua e plantou em outro lugar. Então secou nossa fonte. Em poucos dias ele morreu, porque quem rouba olho d’agua, morre dias depois.

Nós trabalhávamos o dia todo na roça, o nossos meios de transportes eram: o jumento, o burro e os cavalos, a água nós levávamos na cabaça. Água lá da fonte, fria e gostosa. Estradas como hoje, era um sonho, andávamos pelas veredas, até pra ir à cidade era um sacrifício, levávamos dias e dias, saíamos cedo de casa e na hora do almoço nos arranchávamos pelo caminho. Ao escurecer pedia arrancho pra alguém. Ali passávamos a noite e de manhã cedo seguíamos viagem. Íamos levar nossas mercadorias da roça pra vender e trazer alimentos da cidade.

Candeias era bem situada de um pau chamado “candeias,” por isso que hoje o nome deste povoado é Candeias, recordo que um pé de atraca, muito antigo matou uma palmeira, era bem perto do boteco de Sr. Candinho, um morador dos mais velhos que encontrei quando vim morar aqui. O boteco dele era ponto de encontro pra tomarmos uma pinga (cachaça) e prosear com os amigos, à tardinha e nos finais de semana. Ele tinha o maior zelo pela árvore que ficava ao lado de seu bar. Nasceu atracando à palmeira e matou mesmo, mas ainda hoje tem um novo pé de atraca lá pra comprovar o que digo. No lugar do boteco de Sr, Candinho, que seu filho tomou de conta após a sua morte, fizeram um posto médico e homenagearam colocando o nome de Sr. CANDIDO GALDINO DA SILVA.

(Texto baseado na entrevista com Manuel Sales da Silva, 78 anos, trabalhador rural, aposentado.)

Aluno: Railson Oliveira da Silva 13 anos

Professor: Valter Alves da Silva

Escola: Unidade Integrada Municipal Lourdes Itaparay Moreira

Railson Oliveira de Abreu
Enviado por WALTER BERG em 21/02/2017
Reeditado em 28/06/2017
Código do texto: T5919322
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