CIÚMES
Estava vermelha.
O sangue coloria as veias de seu rosto.
Piscava tão rápido quanto podia acompanhar seu olhar.
Olhava rápido, e desviava os olhos para o outro lado.
Não queria mais enxergar aquela cena de terror.
Estava suando.
As mãos inquietas apertavam alguma coisa.
Talvez um coração imaginário.
Ou era vontade de torcer um pescoço.
Quem seria o louco a mexer com aquela mulher?
Era somente um desavisado.
Estava agitada.
Poderia melhor dizer que estava intrigada.
Quantos minutos já se passaram?
Uma eternidade para quem via aquilo que ela enxergava.
Engolia suas palavras sem água.
Estava em pé. E querendo ir lá.
Dar um “oi, tudo bem. Quem é você?”
Quem é você que está do lado do meu amor?
Eu deixei? Você pediu?
Mas sua mente se reprimiu. E ela queria poder voar.
Ou voar para longe dali, ou voar no pescoço daquele ali.
Quem era ele? E como chegou aqui?
A noite estava perfeita. A praça, o banco, o romance, o escuro, o namoro.
Tudo que se podia esperar de um início de semana.
O escondido do namoro revelava o proibido da paixão.
Ela com ela não podia. Diziam
Tinha que ser ela com ele pra dar certo. Afirmavam
Que se dane eles. Eu te amo, minha pequena. Todos os dias repetia.
E ela teve a brilhante ideia de comprar um sorvete.
Sua amada apenas sentada esperava uma bola de morango e outra de chocolate.
E lá ela foi, atrás de satisfazer o sorriso de sua amada.
Quando voltou, no coração uma facada ao ver sua amada acompanhada.
Um rapaz sentado no mesmo banco abraçava com força a sua moça.
E o sorvete mal podia se equilibrar na casquinha.
Estava lutando para não cair. Mas caiu.
E a já vermelha e suada romântica não queria sorrir. Mas sorriu.
A raiva passava pelo olhos, e parava na mente.
Quantas formas de esconder o corpo dele aqui nesta praça?
No bolso tinha as chaves de casa como a melhor arma para o que estava pensando.
Pensou em chegar por trás e deferir o golpe fatal.
Mas preferiu se aproximar pela frente.
E se aproximou. Com as mãos apertadas cumprimentou o rapaz.
Quase deixou escapar um “quem é você?”
Mas apenas se apresentou.
Questionada sobre o sorvete que ficou pelo caminho.
Falou que não tinha o sabor preferido.
E no ápice do descontentamento com aquela cena, ela resolveu falar.
Antes da primeira palavra, o rapaz se adiantou.
E com uma feição simpática perguntou.
Se era ela a moça que roubou o coração de sua irmã?
Sem graça ela fitou o olhar para o lado.
Sua amada apenas deu os ombros e falou.
“Lembre-se que lhe disse que não sou a única filha”
Procurando um sorriso sem graça ela sentou
E sua amada questionou o porquê do calor. O porquê daquela cor.
Ela falou que ficou com raiva porque o sorveteiro não tinha o sorvete do seu amor.