Facada pelas...
Chegando em casa, ouvi o telefone tocar. Corri e consegui atender antes que a ligação caísse. Uma mulher aos prantos... palavras entrecortadas... Deolinda!
- Roberto... Roberto... atende!
- Sou eu Deolinda! - Exclamei. - O que houve?!
- Foi uma facada, Roberto... uma facada pelas... - a voz sumiu no choro.
- Não uma facada literal, eu espero, Deolinda?
- Uma facada... - repetiu ela. - Foi o Agenor, aquele crápula!
- O seu vice? Mas o que o Agenor fez, Deolinda? Pensei que confiasse nele... pelo menos enquanto você estava internada...
Ela respirou fundo. Depois, assoou o nariz. Finalmente, conseguiu completar uma frase inteira:
- O Agenor se aproveitou que eu fui fazer a cirurgia e mudou tudo, Roberto. Aquele filho de uma...
Assoou o nariz.
- Deolinda, calma! O que o Agenor fez de tão grave? Que facada foi essa?
- Ele alugou a nossa quadra pruns gringos... árabes, eu acho. Agora, todo mundo que quiser assistir os ensaios, vai ter que pagar entrada!
- Mas vocês já cobravam entrada, Deolinda - ponderei.
- Só que agora os gringos é quem decidem quem entra e quanto vão cobrar! E só vão nos pagar uma taxa fixa mensal!
- Isso é mau, mas...
- E vão vender espaços publicitários nas fantasias!
- Tá de brincadeira, Deolinda?
- E vão vender a vaga de rainha de bateria! Num leilão!
- Muito, muito mau... mas Deolinda, me diga: e os demais dirigentes? Não reclamaram?
Deolinda levantou a voz:
- Estão todos envolvidos com o Agenor, Roberto! Disseram que a escola só vai pra frente com um homem na presidência... e que eu já estava velha e podia ir pra ala das baianas!
Abismado com o rumo dos fatos, tentei concatenar meus pensamentos:
- Mas Deolinda... isso que fizeram com você foi...
- ...uma facada, Roberto, uma facada pelas... - e o choro voltou, ainda mais forte.
[14-02-2017]