Sem beber
Fui encontrá-la para almoçar e, chegando ao restaurante, já a vi sentada numa mesa dos fundos, uma taça à sua frente. Ela sorriu ao me ver, ergueu-se e trocamos beijinhos protocolares.
- Você está ótima - eu disse, com sinceridade. - Mais magra, pele boa... qual foi o milagre?
- Parei de beber - respondeu. E, perante meu olhar de suspeição para a taça borbulhante com uma casquinha de limão dentro:
- É água tônica, não gin tônica. Cheire.
E, antes que eu pudesse esboçar uma reação, esticou a taça para o meu nariz. Cheirei. Era água tônica.
- Parabéns - disse, me sentindo embaraçada. - Como foi isso?
Ela tomou um gole antes de falar.
- Eu nunca tive realmente problemas com bebida... quero dizer, o tipo de problemas que leva às pessoas aos Alcoólicos Anônimos. Para mim, bebida sempre foi um facilitador social.
- Algo para quebrar o gelo - comentei, enquanto pegava o cardápio que me fora estendido por um garçom.
- Não só para quebrar o gelo... algo para tornar o mundo e a mim mesma mais bonitos e interessantes.
- Um filtro da realidade? - Questionei, enquanto descia com o dedo a coluna dos peixes.
- Depois da segunda taça de vinho, tudo parecia mais vivo, colorido... eu ficava inteligente, engraçada...
- Mas você é inteligente e engraçada - ponderei.
- Eu só descobri isso depois que parei de beber - ela sorriu.
Chamei o garçom.
- Eu vou querer essa moqueca com leite de coco...
- O mesmo para mim - disse ela.
- E para beber, senhora? - Indagou o garçom.
Olhei para minha amiga.
- Se importa se eu pedir um vinho?
- Imagina! - Respondeu ela. - Só não me convide para dividir a garrafa!
Virei-me para o garçom:
- Então vai ser esse Sauvignon Blanc chileno aqui - apontei no cardápio.
[12-02-2017]