Gosto

Iluminados por um sol sobrenatural num céu amarelo, camponeses trabalham num campo que de tão vermelho e alaranjado lembra um milharal na seca. O quadro brilha como que dotado de luz própria, na parede da sala austera.

- É um vinhedo - explicou Anna, sem se abalar.

- Você gastou 400 francos nisso? - Questionou Madame Durand, testa franzida.

- Paguei o que achei que valia - retrucou.

- E esse sujeito pelo menos tem alguma reputação como pintor?

- Bem... ele pinta muito - ponderou Anna. - Mas, quanto a reconhecimento, creio que ainda teremos que aguardar.

Madame Durand cruzou os braços. A tela à sua frente decididamente não lhe agradava.

- Confio mais no seu tino comercial do que no seu gosto para obras de artistas desconhecidos, minha cara Anna. Quem sabe, você não fez um bom investimento... o tempo dirá.

- Sim, o tempo dirá - concedeu Anna.

- Como é mesmo o nome do quadro? - Indagou Madame Durand, ajeitando os óculos como que buscando algo que a agradasse em meio à feiura percebida.

Pacientemente, Anna repetiu:

- Vinhedo Vermelho. De Vincent van Gogh.

[07-02-2017]