A BRUXA
Todas as crianças daquele pedaço de rua sabiam que dona Luzia era uma bruxa e por causa disso tinham medo e nem falavam com ela.
Mas a casa em que ela morava, tinha um belíssimo jardim cheio de flores perfumosas que vez por outra, um mais afoito entrava por baixo da cerca de arame farpado para colher.
Dona Luzia se plantava por trás da cortina de renda da janela para observar quem era o ladrão de suas flores, principalmente as rosas amarelas que ela tanto gostava.
Henriqueta, filha do Sr. Henrique o carpinteiro espanhol, que morava na casa da esquina da rua, era a que por mais vezes colhia as rosas para colocar no vaso aos pés da santa em sua mesa de cabeceira, mas um dia dona Luzia viu a menina e foi queixar-se com o carpinteiro.
A surra com cinta de couro que Henriqueta levou, doeu também em todos os seus colegas da escola e das brincadeiras de pular corda e amarelinha, portanto isso não poderia ficar assim.
A vingança teria que acontecer, mas se destruíssem o jardim da bruxa ela faria outra queixa ao Sr. Henrique ou a quaisquer outros pais e então o castigo poderia se generalizar.
A solução foi dada pela prefeitura.
Serviço de drenagem de águas pluviais.
Cavaram uma enorme vala na entrada da rua e colocaram uma ponte de tábuas para que os moradores pudessem passar.
Com o dia chuvoso, o serviço teve que ser interrompido antes da hora.
Dona Luzia morava só e diariamente ia à padaria e foi nessa hora que um dos meninos executou o plano de vingança.
No retorno para casa debaixo de insistente garoa, dona Luzia, pacote numa não, sombrinha na outra, escorregou e caiu dentro da vala. Depois de muito gritar por socorro e de visível sacrifício conseguiu sair da vala sem o pão, com o corpo dolorido e a roupa toda enlameada e em cada janela uma cabecinha pensava:
Ela vai cair, ela vai cair, ela vai cair... Caiu.
Até hoje ninguém sabe dizer de onde surgiu a barra de sabão deixada num dos lados da pinguela...
Este conto foi inspirado na poesia CALDEIRÃO DA BRUXA da consóror Marina Alves.