Diário do Quilombo
- Parado! mãos ao alto!
- Sim senhor, Doutor.
- Onde pensas que vai "Negrinho"?
- Andou roubando?
- Não Senhor! Estou indo a mando de Sinhá, na mercearia de "Seu Manué".
-Sei,Sei bem como é. Todos os dias " negros fujões" passam por aqui, tentando nos passar o pé.
- Mas, Doutor! Eu não estou lhe mentindo não!
- Silêncio! não dei ordem para falar.
- Sim Senhor! me desculpe.
- Hum! você é mais um desses que se acha melhorzinho, só porque és menino de mando e recado.
- Seu lugar deveria ser na Senzala com os outros. Não vejo para quê, Sinhá lhe dá oportunidade, a você um preto sujo, sem alma e sem casta!
-Mas, doutor preciso quebrar meu silêncio e lhe dizer...Sinhá e Senhorzinho me consideram da família, igualzinho a vós me cê! Ela tem um coração de "Izabel".
- hahahahahaha, muitos risos, você quase da família?
- Oh negrinho, voc~e nunca será da família, nem convertido serás da família, apenas és negro de ganho e nada mais, enquanto nos servir, te daremos comida e água, e retalhos melhores de pano para vestir... nada mais!!!
- Que moleque insolente acreditar que um negro pode ser da nossa europeia família real. Nós que somos cristãos, homens e mulheres honrados de Deus, que temos a cor do leite que Jesus mamou, tão alvos como uma nuvem de algodão.
- Pare o sermão!
(gritos de horror)
- Alguém corte-o!
- Viu senhorzinho, seu sangue não é azul, viu negro o seu sangue também não! Seu sangue é vermelho, tão quanto o dele!
- Obrigado Zumbi!
-Não! Não me agradeça! Levanta, pegue a lança, segure e lance!