959-A NOVIÇA REBECA E O PADRE VITO -
A Noviça Rebeca tinha sido mandada à chácara do senhor Matias a fim de comprar verduras e legumes frescos para o convento. A chácara distava apenas um quilômetro do convento, e situava-se num vale lindo fora da cidade.
Na volta, carregando a cesta cheia de verduras, sente-se cansada e para a sombra de uma árvore. De longe avista a poeira levantada por um carro e quando este se aproxima, faz aquele sinal universal pedindo carona.
O carro para. É o Padre Vitorino, que vem de uma fazenda onde fora celebrar uma missa.
— Bom Dia, irmã! — Diz, descendo do carro para ajudar a noviça a colocar a cesta no banco traseiro. — Entre, sente-se no banco da frente, ao meu lado.
Rebeca conhece o Padre Vito. Sempre alegre e bem disposto
—Bom dia, padre. Me leva até o convento?
— Sim, é meu caminho.
Rebeca senta-se. Cansada e acalorada, levanta um pouco a saia, revelando suas lindas pernas.
Padre Vito se descontrola e quase bate com o carro no barranco que ladeia a estrada.
— Ui, Padre Vito! Fica calmo! — diz Rebeca, exibindo um sorriso ingênuo e ao mesmo tempo sedutor.
Ele consegue controlar o carro e evitar acidente. Vê que a saia da noviça levantou-se um pouco mais, devido aos movimentos bruscos do carro.
Não resiste e coloca a mão na perna da noviça Rebeca.
Rebeca deixa de sorrir e séria diz:
— Padre, lembre-se do Salmo 119!
Padre Vito, retira mão da perna e a garra com força o volante. Envergonhado, se desculpa:
— Desculpe, irmã, a carne é fraca...
Ela olha pro padre e séria,repete:
— Padre, lembre-se do Salmo 119! O senhor se esqueceu?
—Me perdoa, irmã... vou me penitenciar por isso.
—Ora padre, não precisa se desculpar. É só lembrar do Salmo 119.
Mais envergonhado ainda, agora por não se lembrar do Salmo 119, o
padre se cala. Está rubro e o suor escorre pela testa.
—Vou me lembrar, irmã, vou me lembrar.
Quando chegam ao portão do convento, Rebeca tira a cesta do carro, e com um sorriso enigmático, agradece a carona, e entra no convento.
Assim que chega à igreja, o padre corre para a Bíblia, procura com ansiedade o salmo 119, pensando:
Com certeza, estarei condenado eternamente.
Com os dedos trêmulos, encontra a página onde está o Salmo 119, e lê:
‘Vá em frente, persista, mais acima encontrarás a glória do Paraíso'.
Inconscientemente, dá um murro na própria cabeça.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte 23 de agosto de 2013
Conto # 959 da Série 1.OOO HISTÓRIAS