Os (As) garotos (as) dos anos 90

O sinal da escola tocou indicando que já era hora de entrar. A sala era nova, mas os colegas eram os mesmos. Eu estava naquele lugar há anos e particularmente não gostava de nada daquilo. Meu irmão sempre falava para minha mãe que se dependesse de mim eu estaria cada ano em uma escola diferente, porque não conseguia me apegar a nada nem a ninguém. Em partes, ele estava certo. Mas acredito que apenas em uma parte.

Estávamos no ano de 1.997 quando entrei pra quinta série. Foi um ano de mudanças, não muito significativas, mas até que importantes. A diretora veio falar com a gente sobre o fato de estarmos virando adolescentes e que teríamos mais de um professor para nos ensinar as matérias. Algumas mudariam de nome, como ciências tinha virado biologia e algumas outras seriam acrescentadas. Foi um pouco emocionante.

Primeiro dia de aula só era bom mesmo porque não sei vocês, mas eu ficava ansiosa para usar meus materiais novos. Depois vira rotina, é o ciclo da vida.

A sala era terrível, lembro que sempre estudava em salas terríveis, mas aquela foi bem marcante. Os piadistas fazendo suas gracinhas, as professoras saindo da sala irritadas e a doce Kathy isolada em algum canto com medo de ser percebida.

As mudanças em meu corpo foram ficando mais nítidas, mas eu era tão magra e usava roupas tão largas que parecia nunca ter saído da quarta série.

As meninas com quem eu conversava já estavam falando do primeiro beijo ou quem era o menino bonito da turma, mas eu nunca quis paquerar ninguém da escola. Nunca quis mesmo. Eles eram muito bobos, correndo no pátio como animais desembestados, eu realmente não conseguia prestar atenção em nenhum deles.

Tainá e Irina se tornaram minhas melhores amigas. Eram um pouco mais velhas do que eu porque haviam repetido de ano em algum momento, mas nos dávamos muito bem e quando eu estava com elas, me sentia bem por ser adolescente. Era só o começo de tudo, de uma série de outras percepções que só consegui fazer mais tarde. Algumas eu talvez nem tenha feito ainda.

A gente curtia as boy bands da época e brincava na rua até tarde (não muito tarde). Brincava de passar trote nas casas das pessoas e nossas redes sociais eram uma rodinha de amigos sentando na calçada rindo e comendo doces, como se a vida fosse sempre aquilo, como se aquele breve instante pudesse ser para sempre. Porque estou lembrando disso agora? Talvez porque tenha sido bom. Talvez porque tenha passado rápido demais e talvez porque mesmo tendo tudo, a gente reclamava bastante. A pressa em ser independente logo nos deixava inquietos e hoje eu só me lembro dessas coisas como se elas tivessem sido algum sonho distante, onde havia um lugar com muito brilho e sorrisos onde quer que eu fosse.

Onde quer que eu estivesse a mágica aconteceria. Onde quer que minha mente estivesse...

Continua...

Katherina Luna
Enviado por Katherina Luna em 31/01/2017
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