EU VI UM ANJO
- Não tenho certeza, mas aquilo ali atrás das costas dele eram asas? Não, não pode ser, não senti dentro de mim a presença de tal ser. Mas como saberia? É o primeiro que vejo, ou acho que vi. Não pode ser, será que era para eu ver? Ou fui intrometido naquele momento? Se tiver que descrever, o que vem na minha mente é um par de asas brancas rodeadas do brilho mais bonito que já presenciei na minha vida.
Essa sensação especial que sinto, vem acompanhada de sentimentos bons, maravilhosos, estupendos. Estão a pulsar na minha corrente sanguínea. Essa sensação de ser um protegido não me causa espanto, sinto-me sempre assim, o meu coração está bem, tranquilo, até porque penso que continua atrás de mim, não quer me fazer mal, muito pelo contrário. Gostaria então que ele ajudasse a baixar os pelos do meu corpo, porque definitivamente posso ser comparado com um porco-espinho, arrepiado do mindinho do pé até o último fio de cabelo. Mas não vou virar, não é por medo, é que eu acredito que já vi o suficiente, estou suficientemente satisfeito, pois, é isso que eu peço todos os dias. Desculpe-me por batizar-te conforme a minha necessidade, mas tens dificuldade em se expressar, ou eu tenho algum problema que não deixa te escutar.
Nesse momento paramos com os nossos traumas, e percebo que lhe tenho aqui, mas o que dizer, nem ao menos consigo mexer as minhas mãos, o meu corpo com certeza não virará, não conseguirei olhar nos teus olhos. Sim, já entendi que somos amigos, que está aqui por mim e para ajudar-me, ou pelo menos tentar, pois, sei bem que lhe dei e ainda dou muito trabalho. E se eu me virar e ouvir que é uma despedida? Não vou virar mesmo. E se veio dizer que cansou de mim? Não vai ter essa hipótese de ver o meu rosto nesse tom avermelhado e completamente amedrontado. Nesse momento tudo pode acontecer, o meu coração tornou-se o mais barulhento e espalhafatoso. Sempre solicitei a sua presença, mas agora não sei se quero vê-lo, prefiro saber que está aqui me cuidando. Será que eram asas? Agora não sei, mas não vou conferir, serei honesto comigo, estou com tanto medo, que estou paralisado, mas não sei o porquê desse medo.
(Alguns suspiros... )
A sensação é agradável agora, sinto uma tranquilidade absurda, o que sinto é uma alma pura e cristalina que me acompanha em todos os momentos. Quando eu percebi a companhia, a vontade era de correr, mas meu cérebro discutiu comigo, sentenciou-me a ser corajoso, não era um inimigo, era quem sempre quis que estivesse ao meu lado. O nome real eu não sei, como já disse, o batizei com vários, foi o que consegui, e acho que acertei em um deles. Poderia perguntar agora se o seu nome é algum que falei, mas não vou, não consigo nem sequer falar. Imagina olhar. Se conseguisse ler os meus pensamentos como eu penso que consegue, entenderia toda essa loucura. Vamos chegar a um acordo então. Eu vou contar até três e vou virar-me. Um, dois e tr… Não consigo, eu realmente pensei que fosse mais corajoso, mas não é só isso, suponho que tu não queiras que isso aconteça. Está certo, eu sei que a culpa é minha, mas se é minha eu dou para quem eu quiser. Vamos tentar de novo. Um, dois e … Para, para, não me empurra, deixa-me tomar coragem, não sei por que insiste em cutucar-me, não consigo, é mais forte que eu, não consigo!
(Mais alguns suspiros...)
Chega, agora eu vou conseguir. Um, dois, três e vi-ran-do.
Nada? Ninguém? Claro, demorei muito, deveria ter concentrado mais e conseguido falar contigo, mas até agora a minha voz não voltou, tampouco a minha coragem. Mas para um pouquinho, eu consegui virar, demorei, mas virei. Poderia ter esperado, dormido, mas virei. Não posso fazer tudo sozinho, sempre precisei da tua ajuda, não vai mudar agora. Logo agora que vi o quanto brilhas e o quanto me sinto mais seguro a partir desse momento. No entanto, vamos acertar algumas coisas, manteremos a distância visual, e a proximidade astral, acredito que vou me sentir melhor. Mas se pensar que deve aparecer em outro momento, por favor, apareça de dia, vai ser muito mais fácil a nossa adaptação. Nos entendemos agora?
Acredito que já posso abrir os olhos.