A Quadratura do Círculo- cap. 32
Fico matutando, como já fiz antes, no porquê de Paloma ter me escolhido para ser seu marido; remoendo as razões, acho que cheguei a umas conclusões; eu, com minhas ideias existencialistas, das leituras de Sartre e Camus:
- A existência precede a essência; estamos condenados à existência e à liberdade”-eu dizia.
-Ah, sim!- Percebi que ela não entendeu patavinas, mas concordou com a cabeça.
Talvez tenha se impressionado com minha erudição: “taí, alguém de quem meus pais irão gostar”. Mas os velhos queriam dinheiro!
-Onde você mora? O que está estudando?
Parecia um interrogatório; eu pequenininho, apesar de ser grande, e os dois me inquerindo para ver se eu valia a mão de Paloma.
Muito diferente com os pais de Rafaela:
- Pai, mãe; esse é o Bartolomeu; estamos namorando.
A mãe se levantou e limpou a mão no avental; o pai estava com as pernas em cima do sofá; virou o rosto para me ver; estava assistindo ao futebol; sorriu; parecia não se importar muito com a coisa:
- Oi? Quer tomar uma cerveja?
A casa , uma bagunça; uns gatos e cachorros corriam de lá para cá.
- Deixa eu ver o fogo! – Era a mãe, sem se espantar.
Gente tranquila; por que não deveríamos ser assim? Sem nos preocupar com essa neura de “o que vou fazer da vida, quanto tenho que ganhar; o que os outros vão pensar de mim ?” Esses aí eram o sossego em pessoa; essas pessoas talvez sejam felizes, embora não tenham muito.
Mas eu tinha sido mordido pela mosca da prosperidade; eu queria porque queria ser aceito pela família de Paloma, lógico, na época em que vivíamos juntos. Foi uma empreitada difícil; há pessoas que são tão diferentes que, a única semelhança entre elas é que vivem no planeta Terra e que são da espécie homo sapiens. Paloma também se enchia de seus parentes cheios de frescura e pedantismo, é verdade, porém ela não deixava de ser um deles:
- Olha aquele pingente ali, que lindo!
- Você sabia que o preço disso é o salário de um mês de algumas pessoas e que essas ainda têm filhos pra criar?
-Ih, você com suas observações sociológicas; não sabe apreciar nada! Eu não posso apenas olhar?
-Olhar para quê?
- Com você não vou comprar mesmo!-Disse , meio brava!
Fiquei ofendido; mas retruquei:
- Por que não experimenta trabalhar para comprá-lo?
Parece que aquilo a tinha tocado; sempre mimada; trabalhou aqui e ali, mas nada efetivo; agora a situação ficava difícil, mas não dava o braço a torcer:
-Meu pai sempre me deu de tudo; nunca me faltou nada!
-Você e seu pai! Seja você mesma!
Baixou a cabeça e não falou comigo por uma semana. Parecíamos uns mudos em casa. Depois disso se cansou e veio me abraçar. Eu não resistia àquele sorriso!