Numerado

Acabamos de comer e pedi a conta. Ela limpou os lábios com o guardanapo de linho, e depois lamentou-se:

- Olha, quando eu contar lá em casa que vim à Paris comer pato à cabidela...

- Canard à la rouennaise - pronunciei no meu melhor francês. - Nunca vão adivinhar que é pato ao molho pardo.

O garçom chegou com a conta. Ela esticou a cabeça para ver o valor, curiosa. Arregalou os olhos.

- Meu Deus! Setenta euros por cada pato?

- E é porque viemos na hora do almoço - comentei, enquanto entregava meu cartão de crédito. - Nem faço ideia de quanto nos cobrariam no jantar.

O garçom me entregou a nota e o certificado, com a numeração dos patos que havíamos consumido. Exibi-os para ela, como um troféu:

- Na verdade, não estamos realmente pagando pelo valor dos patos, mas por isto aqui.

Ela pegou o certificado e guardou-o na bolsa.

- Está bem, setenta euros por essa magnífica experiência parisiense...

E baixando a voz:

- E o pato nem é lá essas coisas. De repente poderiam vender só o certificado... por um décimo do preço.

- Bote na caixa de sugestões - sugeri, piscando o olho.

[30-01-2017]