O Dr K-NETA...

O Dr K-NETA...

(conto)

Nos anos 70, eu morava na capital paulista, já contava aí com meus 23 anos de idade. Eu era um jovem muito tímido, gostava de uma moça que viera da mesma cidade que eu, lá no interior do Paraná. Na rua Direita, (no centro velho de S Paulo). Nessa época existia o Dr K-NETA. Dr K-neta, era um homem de uns 40 anos, mais ou menos. (Ele) seu figurino compunha-se de: uma peruca (vermelha), óculos escuros, calça de veludo marrom bem apertada, boca de sino, e camisa florada, estilo tremendão, e sapato de salto carrapeta.

Dr K-neta ficava bem no meio da rua, sentado em um banquinho, uma mesinha redonda, oferecendo ali seus serviços de “cupido”. Ele prometia escrever “encantadoras” cartas de amor para os amantes apaixonados, porém tímidos. Eu, em uma das minhas idas ao centro da cidade, passando pela rua direita, vi ali a possibilidade de me declarar amor à minha eleita (Angelita). O Dr K-neta cobrava à época Cr$ 20 cruzeiros por cada carta escrita, mais a garantia de 100% de eficácia. (Ele) o Dr Ka-neta estava sempre cercado de pessoas de ambos os sexos, querendo contratar seus serviços.

Solicitei, paguei pelo serviço e o obtive. Dr K-neta me entregou a carta e fez a promessa de total êxito. Só que me pediu para eu não duvidar do resultado, recomendou que eu, nem precisava ler a mesma, e confiar no sucesso. Ele oferecia o testemunho de muitos encontros felizes de casais unidos graças à mágica de sua famosa fórmula infalível de convencer amores difíceis. Ele possuía mesmo o dom de envolver aquelas pessoas que o procuravam, em uma atmosfera de magia, encantamento e hipnotismo. As pessoas acreditavam mesmo no poder que ele demonstrava em envolver quem por ali passava, com a promessa e a certeza de conquistar um amor impossível.

Pedido feito, pedido atendido! Entregou-me em mãos a “carta mágica”, que iria fazer bater mais forte o coração da minha pretendida. Como sempre fui muito curioso, não resisti e abri o envelope, que era desenhado cuidadosamente com a figura de um cupido, flechando um coração. Abri o envelope, tomei nas mãos a carta e comecei ler. Tive uma grande decepção ao ver que não ia corresponder às minhas expectativas. O conteúdo não ia causar o efeito que eu esperava. Era simplório e sem graça alguma. E de encantador não havia nada! Fiquei muito decepcionado e senti-me desiludido.

Cheguei à conclusão que, Mil vezes melhor que aquela (pobre) carta sem um mínimo de inspiração e vida, eu conseguiria escrever. Ou melhor!... eu decidi então ir me declarar pessoalmente, e falar com a minha pretendida. Decepcionado, rasguei a tal carta, fiz um fogo e a queimei. Decidi procurar a bela jovem Angelita. Falei-lhe do meu amor. Ela mostrou-se surpresa, mas me confessou que já me amava à distância. Relatou para mim que certo dia, passando pelo centro da cidade, na rua Direita, ela pensou em como seria bom...

Ela parou em frente ao Dr K-neta para ver ele trabalhando e vendendo seus serviços. Naquele momento ela pensou como seria bom se eu a pedisse em namoro. Chegou até imaginar eu a entregando uma carta daquelas escritas por ele. Ela me revelou que vendo como ele vendia seus serviços com a “certeza” do êxito, ficou a pensar em mim...

Pedi-a em namoro, namoramos durante 02 anos. Foi maravilhoso! Nos gostamos muito..., mas um dia ela chegou para mim e me disse que entre nós estava tudo terminado. Sofri muito, mas... passou... vida que segue!... Passados alguns anos, encontrei minha cara-metade, casei-me e fui morar em outro estado.

Quanto ao Dr K-neta: - ele existiu na realidade: ele foi um profissional, que como qualquer outro brasileiro; trabalhava honestamente para ganhar o seu pão de cada dia -, não havendo na minha narrativa nada que o desabone. A rua Direita foi por vários anos o seu local de trabalho ao ar livre -, sempre vendendo suas (cartas de amor) - ilusão!... mas depois não tive mais notícias dele. Quanto a mim -, eu nessa época era um jovem sonhador, e ainda adolescente -, com o tempo aprendi por mim mesmo como conquistar uma mulher.

Texto registrado no Escritório de Direitos Autorais em 17/10/2016, e protegido pela lei nº 9.610/1998.

Arnaldo Leodegário Pereira

Arnaldo Leodegário
Enviado por Arnaldo Leodegário em 23/01/2017
Reeditado em 25/02/2023
Código do texto: T5890642
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