Punhalada
O dia amanhecera belo, algumas aves canoras cantarolavam felizes prenunciando alegria. Disposto, corri para o banheiro, tomei uma ducha gelada, logo após tomei o meu café forte e sem açúcar; depois resolvi fazer uma faxina em casa.
Coloquei o vinil da Minnie Riperton pra rodar e comecei pela estante de livros, mas ao tirar alguns livros de R. Chandler do lugar, um papel caiu no chão.
Fitei-o curioso e percebi que era um pedaço de folha de caderno dobrada, mas pela cor – uma tonalidade de lilás e uns ursinhos no relevo – percebi que se tratava daquelas antigas folhas de fichário feminino. Abaixei-me, apanhei o papel, mas melhor fora não tê-lo feito!
“Bom dia meu amor!
Poderíamos fazer como na página 27 esta noite
Acho que você irá gostar
Eu te amo e não esquece o lanche que deixei no forno ”
Acabou com o meu dia! Pois eu nunca li o livro, nem sei qual livro é, e muito menos recordo dia em que este bilhete se refere. Mas aquela caligrafia, os coraçõezinhos sobre as letras “i” e o aroma de frutas da caneta estereográfica, sacudiram o meu ser. Algumas coisas deveriam ficar sepultadas com o tempo e jamais deveriam voltar para nos assombrar.