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- Eu terminava o dia com as palmas das mãos azuis, - disse-me a aposentada, enchendo a minha xícara de café - de tanto trocar as folhas de papel carbono!

Estávamos no alpendre de madeira da casa de Donna O'Bannon, às margens da rodovia interestadual. Eu havia parado o carro-patrulha ali perto, no caminho de volta para a delegacia, como às vezes fazia ao término da minha ronda. Donna havia sido servidora civil no escritório do xerife por décadas a fio, e agora que todos os seus filhos haviam casado e partido, algum dos policiais sempre passava por ali de vez em quando, para ver se ela estava bem ou se precisava de alguma coisa.

- Pois fiquei sabendo que o xerife mandou comprar máquinas de escrever novas... o que significa dizer que as cópias de carbono também vão voltar, Donna - comentei.

- Mas por quê? - Ela sentou-se à minha frente, genuinamente surpresa.

- Tem alguma coisa a ver com o novo plano de segurança nacional que foi baixado por Washington. A ordem agora é utilizar máquinas de escrever e mensageiros para as comunicações mais sensíveis. Querem evitar ao máximo a possibilidade de interceptação de correio eletrônico pelos russos.

Donna balançou a cabeça, como se não estivesse acreditando no que ouvira.

- Os russos... sempre os russos! Quando a gente achava que tinha se livrado deles...

- Pois é - retruquei, tomando mais um gole de café. - Mas sabe o que é mais engraçado nessa história?

Ela me olhou com expressão interrogativa.

- Nós não produzimos mais máquinas de escrever, portanto, tivemos que comprá-las de quem ainda as fabrica...

- Putin! - Exclamou indignada Donna O'Bannon.

[13-01-2017]