A MISTERIOSA MOÇA DE BRANCO
Flagrantes da vida real
Lá pelos idos de 2014 eu trabalhava das 13:00h às 19:00h e todos os dias - ao sair -, entrava no elevador por volta das 12:45h. Moro no 16ª. andar do prédio e ao entrar logo ele parava no 15. Ali entrava uma moça vestida toda de branco, inclusive seu jaleco e sapatos. Era de uma beleza impar: corpo escultural e aparentava uns 22, 23 anos de idade. De pele branca, grandes olhos diáfanos e cabelos castanhos, porém relativamente curto e crespo.
Ao entrar no elevador, com seu inseparável telefone às mãos, rapidamente levantava os olhos para me dizer com voz suave, mas formal, "bom dia senhor". Ao sair, da mesma forma, com semblante sério (mas simpático): "boa tarde para o senhor" Eu retribuía o cumprimento igualmente sério. Ela descia na mesma garagem minha e eu a via embarcar em seu carro, um novíssimo HB 20 Hatch, igualmente branco e bonito tanto quanto.
Bem, o tempo foi passando e entramos em 2015. Era fevereiro e há quase um ano eu a conhecia, mas nunca trocamos uma só palavra, além de “bom dia e boa tarde”. De alguma forma eu a admirava, talvez pela sua beleza e/ou pelo seu comportamento. Não sei por que, eu tinha comigo que ela era fisioterapeuta, mas nunca me deu uma chance sequer de perguntar-lhe.
Um belo dia daquele mês, ela entrou sorridente no elevador, quando pude admirar seus alvos e perfeitos dentes. Levei até um susto. Não sabia se ria de mim ou para mim. De qualquer forma resolvi matar a curiosidade em saber qual era sua profissão. Questionada, respondeu que não era fisioterapeuta, e sim farmacêutica. Desceu toda feliz e fomos conversando até pegarmos nossos carros e sairmos da garagem. Entretanto deu tempo de contar-me que não era desta cidade e viera para cá apenas para trabalhar.
Ficou nisso, e nem poderia ser diferente, mas fiquei contente com a pouca conversa informal que tivera com aquela misteriosa moça de branco. Nada mais lhe perguntei nem mesmo o seu nome.
Então, ao voltar à tardinha do trabalho, como sempre, seu carro já estava na garagem. Peguei um papel e uma caneta no carro e ali mesmo escrevi-lhe uma poesia (abaixo). E, anonimamente fixei o papel, com o limpador, no vidro dianteiro do seu carro.
Misteriosamente no dia em que falei com ela foi a última vez que a vi, bem como seu carro na garagem. O fato é que ela desapareceu do prédio e/ou da cidade. Nem sequer soube seu nome para saber se havia gostado da poesia, que "eu tinha visto um sujeito colocar sobre o vidro do seu carro”.
OBS.
1) O título da poesia é uma alusão à "Ode to Joy" (Hino à Alegria), ou seja, a parte cantada da 9ª. sinfonia de Beethoven.
2) Quanto ao título, "Hino à Desilusão" é obviamente uma referência a algo belo, mas inalcançável.
ODE TO DESILUSION
Conheci o alvor do branco
Nos sobe e desce da vida
Com cor não parece tanto
Soma das cores, escondida
Em ti, um imaculado manto.
Bom foi te conhecer
O destino não existe
Basta no espelho crer
Nem a esperança persiste
Mas, Glória a Deus em viver!
Naquele trato formal
Porém de extrema ternura
Desperta um respeito igual
A tão jovem escultura
Mestre Artesão Celestial
Na Botica és o tônico
Pras cousas do coração
Quiçá de um velho anacrônico
E a muitos iguais, então
És tu o amor platônico