O Barítono e a Vida.

Vez por outra me vejo apaixonada por palavras...soltas numa conversa, que chegam como se fossem convidadas para uma festa...

Então viajo na cauda desse vocábulo caído, como se fosse gota de chuva em dia claro que pousa no braço, despertando para uma novidade...

Um dia como esse me apaixonei pelo barítono. Ao ouvir a palavra sabia mais ou menos de que se tratava de uma classe vocal...Mas além disso é uma palavra de desenvoltura própria... Como um título de nobreza...

Seu significado é ainda mais arrebatador: voz masculina, que se encaixa entre as vozes, tenor e baixo. Sendo essa mais aveludada... Um convite à paixão... Pronto! Me apaixonei pelo barítono!

Esse nome deveria estar na lista de predicados de uma gramática:

Fulano é tão barítono!

Vejam ela dançou baritonicamente hoje! Ou um tecido leve e sedoso que envolve e embeleza o corpo vestido do mais fino barítono...

Continuo a viagem na sonoridade do nome apaixonante, que ainda conta com o charme de possuir um acento agudo, que provoca deleites na pronúncia... Imaginem sem ele...Seria o baritono...Desperceberia a exuberância da palavra que por tempos frequentou a minha casa de pensamentos...

Houve outro dia...Num programa de entrevistas, foi perguntado qual era palavra preferida dos presentes e entre: Mar, amor, saudade, música, me vi apaixonada pela Vida...

Palavrinha curta e enxuta que iguala a todos... Os que amam, os que odeiam, os que dançam, os que se deitam, os que pagam e os que recebem...Todos receberam vida...

A que possuímos: A vida, a que procuramos: Há vida? A que nos faz sofrer...Ahhh Vida...

Que me faz pensar que um dia, muitas vezes sem aviso ela se irá... Para dar a vez a uma palavra sem beleza, com gosto de chá amargo e aguado...Morte... A vida sai do ato pra nunca mais voltar, a não ser no pensamento dos que nos quiseram de alguma forma...

Mas tenho um lampejo de que a vida, essa danada nos deixa lembretes como em papel adesivo, que avisam-nos dos nossos compromissos...

Ela volta a habitar na flor que teima em nascer entre dois paralelepípedos de uma calçada, No lugar cedido numa condução, No cafezinho do bar entre amigos que se encontram por acaso, no menino que encontrou sua bola perdida, nos abraços que fazem as pazes...

A vida é um picadeiro que se desmonta e se monta em outro lugar...

Olhos de Gato
Enviado por Olhos de Gato em 08/01/2017
Reeditado em 11/01/2017
Código do texto: T5875993
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