Coisas da vida

Um alerta! Os nomes dos personagens são fictícios mas o caso real. Aconteceu mesmo.

O Tonho e o Dito era gêmeos idênticos.

As pessoas até brincavam chamando-os de Cosme e Damião, se bem que estavam mais pra médico e monstro. Aparência igual, mas o gênio. . .

O Tonho era o legítimo bom-moço. Amigo de todos, ajudava quem podia sempre com um sorriso na cara. Trabalhador, sério até demais, enfim uma pessoa de confiança. Daqueles que podia-se deixar tranqüilamente em casa, na certeza que nada de mal aconteceria.

Já o Dito!

Bem, o Dito era o legítimo sujeito divertido. Contador de piadas sujas, aprontador de artes com os conhecidos, violeiro e um tremendo de um cafageste. Não podia ver mulher, séria ou mais ou menos que caia matando. E comia mesmo! Imaginem que até uma aleijadinha ele tinha mandado pro saco.

Dia mais, dia menos, casaram-se.

E por incrível que pareça, com duas irmãs gêmeas. A Marta e a Maria.

Estudos indicam que gêmeos quase sempre tem as mesmas preferências. Talvez aí estivesse a explicação para o casório geminiano-duplo. Quem pode saber?

Os dias passando, os meses, os anos e o Tonho – como era de se esperar – o marido exemplar. Sempre carinhoso, atenções redobradas com Marta, passeando de mãos dadas, presentinhos aqui e acolá. Despertando inveja em tudo quanto era moça da cidade.

E não foi uma nem duas que afirmou de boca cheia que “ aquele sim era o marido que pedia a Deus”, sem vergonha nenhuma de parecer boboca ou invejosa da vida alheia. No caso, a vida conjugal de Marta e seu respectivo consorte.

A Maria, coitada, comia o pão que o diabo amassou. Fim de semana era batata! O Dito se aprontava e saia para aprontar. E dá-lhe forrós! E dá-lhe bebedeiras! E dá-lhe putarias. Teve dia que foi obrigada a buscar o marido na zona, desmaiado de tanta cachaça.

E falta de grana então?

Qualquer dinheiro que porventura ganhasse, vê lá se gastava em casa com a esposa! O endereço era certo: farras e mais farras.

E pra piorar: zoava legal o irmão, todo santo dia!

Dizia que era uma besta! Que mulher boa era aquela que encontrava na rua e não a esposa em casa! Que a vida estava passando e o irmão perdendo tempo com bobagens! Que qualquer dia desses ia acabar levando chifre! E todos os argumentos possíveis e imagináveis para tirar o bom Tonho do bom caminho e da felicidade conjugal.

Este por sua vez agüentava calado para não magoar o irmão, e por que tinha mais o que fazer que ouvir sandices.

Mas dia vai, dia vem, não agüentou mais e tascou na lata:

- Sabe Mano, você vive dizendo que estou errado. Que vou me ferrar. Que vou levar chifre. Mas pense comigo: quando você sai para as farras, tem certeza que sua mulher fica em casa?

- Claro.

- Quem te garante que quando você saiu pela porta da frente, ela não sai pela porta do fundo e não te trai?

- Eu, pelo menos, como sempre estou junto dela, quando ela poderia me trair?

Foi aí que o Dito parou e pensou.

O irmão tinha razão! Qualquer mulher, por mais direita que seja, um dia cansa. E qual a primeira atitude para magoar o esposo?

Pois é! Isso mesmo! Um belo de um par de chifres enfeitando a testa.Não diziam por aí que mulher trais por duas razões distintas? Ou amor por outro ou raiva do marido?

E maneirou umas duas semanas. Mas como galho torto não endireita mesmo, voltou à vida de antes bem rapidamente.

Como podem imaginar – e garanto que imaginaram mesmo – um belo dia aconteceu de voltar mais cedo da gandaia. E quem encontrou dando e recebendo uns amassos pra lá de calientes numa casa abandonada, onde parou para tirar água do joelho?

Aposto que sabem quem?

Marta, que arregalou uns olhos destamanho por ser apanhada em flagrante delito com o guarda noturno. Com quem tinha um caso pra mais de ano.

Puto da vida deu uns tapas na cara da cunhada, para ela deixar de ser semvergonha e desrespeitar o irmão, um santo homem. Que neste momento estava no culto evangélico sózinho, a mulher dissera que estava com dor de cabeça e não podia ir.

Mas que todo mundo na cidade quando a história ventilou, comentou que era a Maria, isso não posso negar!

E ela, coitada, passou por puta um bom tempo, sem chance de se defender.

Foi aí que o Dito teve uma atitude decente. Atitude de gente grande, que ninguém podia esperar dele. Deixou o povo pensar o que quisesse, só para o irmão não se magoar e talvez sair do caminho correto.

Antes porém, alertou a cunhada. Se reincidisse ia apanhar de novo. E desta vez ia bater com fé e vontade.

São coisas da vida.

Nickinho
Enviado por Nickinho em 31/07/2007
Reeditado em 01/08/2007
Código do texto: T587486