Nove meses
Ela estava com o envelope nas mãos, sem coragem de abrir. Sentada na praça, mordia nervosamente o canudinho mergulhado na lata de Fanta e olhava para os lados. Estava esperando por ele. Alguns minutos atrasados depois ele chegou, também nervoso, dando explicações para o atraso. Não importava. Ela o aguardou para que, juntos, abrissem o envelope mais importante de suas vidas, o que iria mudar a forma como eles enxergavam a vida até esse dia, nessa praça. Abriram. "Estou grávida", ela disse. Logo, veio um friozinho na barriga e ela ficou tonta. Ele ajudou ela a sentar. "E agora?", ela perguntou, na insegurança de seus 16 anos. "Não sei, eu sou muito novo", respondeu ele. "E eu, o que sou?", ela se desesperou. Ele jogou o envelope no colo dela. "Preciso pensar". E foi embora (e não voltou mais..).
E, assim, ela ficou sozinha, com medo de tudo, sem ter coragem para nada. Sentia-se frágil e insegura como jamais tinha se sentido. Com o passar das semanas, foram surgindo dificuldades e foram aparecendo ainda mais responsabilidades. A pessoa que esperava que ficasse ao seu lado não estava, porém, muitos outros a amparavam. Ao contrário do que pensava, muitos se importavam com ela e a amavam. O medo que tinha de contar para os pais, mostrou-se exagerado. Eles estavam, sim, ao seu lado. Mesmo assim, ela tinha medo e acordava chorando, em sua aflição de mulher. E assim foi, durante nove meses. Foi numa manhã de primavera que, finalmente, ela nasceu. Delicadamente os médicos colocaram aquela frágil criaturinha em seus braços. E a menina-mãe mal se se aguentava em sua ânsia de abraçá-la bem apertado, junto ao seu corpo e beijá-la, em meio à lágrimas. Durante nove meses, tinham sido uma só. Hoje ela era mãe e a menina em seus braços era "Thaís". Os pequenos olhinhos encaravam a mãe, que viu-se inundada de uma coragem que jamais havia sentido antes. "Tudo vai dar certo. Agora eu sei.", dizia com lágrimas de alegria rolando por seu rosto...