Desodorante

Reunimo-nos na casa de Jurema, na semana seguinte ao seu retorno de Paris. Todos estavam muito curiosos para saber como havia sido a estadia na capital francesa, sobre os hábitos dos franceses (se eram tão mal-educados quanto se diz, se tomavam banho etc.) e, principalmente, sobre as lembrancinhas que ela havia prometido trazer. A maior parte, diga-se de passagem, eram mesmo lembrancinhas, tipo aqueles chaveiros vagabundos com miniaturas da Torre Eiffel, mas os visitantes fizeram cara de alegre pelo simples fato de Jurema ter se lembrado deles. Só houve um certo mal-estar no momento em que ela declarou o que havia trazido para o Zezinho (que não estava presente).

- Toda vez que andava de metrô em Paris, eu me lembrava do Zezinho, - disse Jurema rindo - portanto, só havia uma coisa que eu poderia trazer pra ele!

E exibiu uma embalagem de desodorante - toda escrita em francês, naturalmente.

A embalagem circulou de mão em mão até chegar à Deolinda - a única visitante que ainda lembrava das aulas de francês da escola primária. Ela ajeitou os óculos, examinou a embalagem e depois olhou incisivamente para Jurema.

- Você não pode fazer uma maldade dessas com ele, Jurema.

Ficamos todos atônitos com a declaração intempestiva.

- Mas... por que, Deolinda? - Questionou Jurema visivelmente sem graça.

Deolinda sacudiu a embalagem, enfatizando as palavras.

- Aqui diz "3 jours renforcés", Jurema...

Suspirou.

- Quer mesmo que o Zezinho fique três dias com o desodorante vencido?

[05-01-2017]