A Quadratura do Círculo- cap. 25

“Não, aquele romance não poderia durar”- pensava isso comigo mesmo, querendo me convencer que Paloma e Rufino eram incompatíveis- “eles não vão dar certo; são muito diferentes; Paloma é uma moça refinada; Rufino é um grosseirão, bruto; ela gosta de coisas finas; não sei como me admitiu entre os seus?” Queria me convencer de que aquele casal não daria certo; pensava comigo mesmo que ,se fracassei com ela , não poderia dar mais certo com ninguém. Tinha uma pontinha de inveja e, talvez, ainda esperasse um arrependimento dela; a via chorando, pensando todo dia em mim; sim , porque não me considero romântico , mas admito todas as bobagens românticas. Meu imaginário era assim:

- Bartolomeu, amor de minha vida; não posso viver sem você! ( ela estava chorando, batendo em minha porta, de joelhos)

-Não, jamais; você me deixou; volte para seu amante! (dramático; ela se agarra em minha perna, mas eu, irredutível, apontava a porta da rua; que dramalhão mexicano!)

-Eu errei, mas... não posso viver sem você, Bartô,hãããããããããããaãã!

-Não adianta; você não é digna de minha confiança; comparava-a a Palas Atena; agora desceu à vulgaridade; nunca mais quero vê-la...

-Tá bom. Mas... Bartô, posso te pedir uma coisa?

-Pode!

-Volta pra mim, meu amorrrr!

-Sim...querida!!!

Era assim a minha fantasia; mas a realidade era outra; e não é que deram certo? E não é que se entrosaram? As uniões mais improváveis ultrapassam toda a lógica;e .. não é que eram um casal quase perfeito, se existe isso no mundo?

No começo, foi um escândalo na família; seu pai ameaçou expulsá-la da família; a Manolita foi mais compreensiva; deixou a bola baixar, a família deixar de falar; fez eles viajarem para saírem das vistas maledicentes. Depois recebeu-os em casa; o velho olhou com uma cara mais feia ainda, com o nunca fez para mim; quis saber o que fazia, quanto ganhava, onde morava; honrou sua fama de homem durão e preservador dos costumes.

Mas o tempo, ah, o tempo, faz maravilhas; com ele , foi vendo que seu trabalho na bolsa não era dos piores; até tomou uns consekhos com Rufino sobre umas aplicações; depois aplicou algum dinheiro com ele; um pouco depois, era seu braço direito. Mas e a honra ultrajada da família? Tudo, tudo se esquece...Logo estava confreternizando com o babo e os parentes, tomando vinho com eles; algo que nunca fizeram comigo, também, eu era intelectual demais para eles; iria falar de livros; achavam estranho, bem pouco másculo, mas Rufino, que tratava do físico com esmero e falava de ações na bolsa era mais palatável. Um pouquinho mais de tempo e ... era um filho deles!

E Paloma? Ela, que já era vaidosa, agora parecia uma madame; usava jóias caras, coisa que ela nunca fez comigo; também Rufino gostava de frequentar lugares caros e sofisticados; ela funcionava como um bibelô seu; parece que gostava de seu papel e, se enquyadrava bem nele.

Ah, as pessoas; você julga conhecê-las, mas o que será sua alma? Eu mesmo não me conheço; quem sou eu? Como ela poderia suportar alguém como eu, com meus conflitos existenciais? A família? Ah, essa quer ver coisas práticas; não os culpo. Manolita tinha até uma certa afeição por mim, mas isso não a impediu de gargalhar com Rufino, que tentava acompanha-la na dança do flamenco; sim , até isso ele conseguiu; um gênio... e eu traduzindo versos do grego...