O velho Martiniano tinha código: ‘Tá na hora de ir para o altar...’
— É sacrilégio comparar o momento de intimidade do casal com o sacrifício de  oblação.
— E não é um sacrifício? É trabalho pesado,  dá uma suadeira!... Deus, em sua sabedoria, colocou um atrativo. Você acha que se não houvesse néctar na flor, abelha ia trabalhar de graça, fazer polinização?
— É... Mas espere eu fazer minha reza.
Martiniano de Castro apanhou a expressão ‘no altar do sacrifício’, numa fala de certo pregador: ‘Todas suas obras, preces e vida conjugal, se praticados no Espírito, se tornam hóstias espirituais, agradáveis a Deus.’
— Será?
— O pregador não pode dizer  coisa de sua cabeça. O que ele diz tem que ter embasamento bíblico ou no Catecismo que é extraído da própria Bíblia e da  tradição da Igreja.
— Tornam-se hóstias espirituais. Pode significar outra coisa — disse Ravenala.
— Não sei. A  mãe ora antes. Escuto o pai falar: ‘chega de reza, mulher!...’
Ravenala riu.
Então, pensou em  receber de Robert um convite para oferecerem junto um sacrifício de agradável odor.
— Recebeste meu convite de casamento?
— Gostei. Tá muito bonito!
— Preciso ir. Tenho muito ainda a conversar com o repórter-fotográfico.

No virar de cada página, vai-se um mês e vem outro, vai-se um ano e dezenas de anos vão correndo, escorrendo como águas de um regato. A idade avança: um quarto de século contempla a beleza da moça solteira. Não há guarda-chuva contra o tempo  que tritura as quatro estações da vida. 
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Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...