A boneca de Bebel

Numa pequena cidade do interior, num bairro pobre e afastado, na última casa de uma rua de chão, morava uma família muito humilde. Seu Arlindo, dona Margareth e os filhos Luis Eduardo, José Carlos e Maria Isabel, a Bebel. Viviam com muita dificuldade. A renda da família vinha da pensão por invalidez que seu Arlindo passou a receber depois de um acidente de trabalho numa obra da construtora em que trabalhava que o deixou paralítico e das costuras de dona Margareth. Os meninos de 11 e 14 anos, a caçula com apenas 6, não podiam ainda contribuir.

Bebel era o xodó da família, uma garotinha alegre e delicada. Estudava na escolinha do bairro, da qual voltava todos os dias faceira querendo mostrar a todos suas tarefas e tudo o que havia aprendido na aula. No último dia de aula antes das férias de fim ano, Bebel chegou triste e calada, deixando a todos preocupados. A mãe tentou descobrir o motivo, mas a menina a princípio nada dizia. Com muita insistência do pai, ela acabou contando:

_ Papai, eu queria uma boneca igual a da Mila. Ela é tão linda, tem cabelos longos com tranças e um vestido rodado cheio de rendas, como o de uma princesa! _ A menina suspirava ao descrever a boneca da amiguinha. Seu Arlindo se entristeceu, pois o desejo de sua adorada filhinha era bem difícil de ser realizado.

_ Bebel, bonecas são todas iguais... Você já tem uma boneca.

_ Mas papai, a minha boneca é tão pequena! Já está muito velhinha, os vestidos desbotados...

O assunto morreu por ali, mas por mais que todos tentassem animá-la, não conseguiam e a cada dia, a menina ficava mais triste, calada e quase nem comia. Sonhava com a boneca da amiga todas as noites. Os dias foram passando e já estava perto do Natal. Então Bebel chegou para a mãe e disse:

_ Mamãe, vou pedir para o Papai Noel a boneca de presente de Natal! Eu sempre me comportei bem, ele certamente vai me atender!

Dona Margareth ficou desesperada. Contou ao marido e eles resolveram que teriam que dar um jeito na situação. Não tinham nenhum dinheiro sobrando para comprar presentes, apenas o que estava guardado era contadinho para o aluguel que iria vencer na semana seguinte. Os pais da menina concordaram em usar uma pequena parte do aluguel para comprar uma boneca para ela. Depois dariam um jeito de completar o dinheiro. E assim fizeram. Mas só conseguiram comprar uma boneca simples, mais barata e muito longe de se parecer com a que Bebel sonhava. Colocaram o presente ao lado da cama da garota, na véspera do Natal.

Na manhã seguinte, dia de Natal, todos estavam tomando o modesto café, quando entra Bebel pulando e gritando de alegria com uma enorme e linda boneca nos braços.

_ Olha mamãe, a minha boneca! Papai Noel me atendeu e ele me deu exatamente a boneca que eu queria!

Os pais se olharam espantados, não podiam acreditar no que viam... Com certeza essa não era a boneca que eles haviam comprado. Mas tamanha era a felicidade da pequena Bebel, que todos acreditaram que realmente um anjo havia ouvido as preces da inocente criança e a tinha atendido. Mas uma surpresa ainda maior os aguardava... No dia de fazer o pagamento do aluguel, dona Margareth foi contar o dinheiro para saber o quanto realmente ainda faltava, pois teria que se virar nas costuras até repor cada centavo. Ficou pálida e sem ação ao ver que o dinheiro estava todo ali, contadinho o valor do aluguel, sem faltar nenhum centavo! Correu contar ao marido, toda em lágrimas!

_ Só pode ter sido um milagre, Arlindo!

_ Sim, Margareth! Não apenas um, mas dois milagres! Não há outra explicação!

A família ficou muito feliz. Tudo havia se resolvido, estavam aliviados e agradecidos pelos milagres que receberam, nem sabiam se eram merecedores de tamanha graça! Mas amor, carinho e compreensão nunca havia faltado naquela casa, embora tivessem tão pouco dinheiro.

Rose Martins
Enviado por Rose Martins em 31/12/2016
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