A IMPORTÂNCIA DA REBIMBOCA DA PARAFUSETA NOS POTÁSSICOS PROBLEMAS DE FLATULÊNCIA*
Esperava impaciente o fim da aula inaugural. Como muitos ali ansiava pelo trote que seria dado pelos veteranos. Com trinta anos, sendo o mais velho da nova turma, era de se esperar que tentasse fugir da brincadeira. Mas não, sentia como se aquilo fosse como um batismo para uma nova vida. Daqui há nove anos seria sempre Drº Gustavo ou Drº Linhares. Não precisaria enterrar seu passado, pois ele não teria mais qualquer importância. Não que tivesse feito quatro anos de cursinho para entrar em Medicina só por conta disso. Gostava da área. Mas isso era um enorme bônus.
Como esperado, na saída estava uma ruidosa turma de veteranos os aguardando. Alguns fugiram, mas a maioria se deixou levar alegremente para a Atlética da Universidade para ser devidamente zoada. Enquanto esperava a sua vez de ter os cabelos cortados e o corpo pintado, imaginava qual seria o apelido que lhe dariam; Tiozão, pela idade? Jeca Tatu por conta do sotaque caipira? Tanto fazia, qualquer um era melhor do que sua alcunha em Miracema do Norte. Perdido nestes pensamentos ele escuta uma voz animada e embriagada que faz correr um frio por toda sua espinha:
-Eu não acredito! Não pode ser! REBIMBOCA!
Tentou abaixar a cabeça e se esconder, mas foi inútil. O veterano correu e o abraçou com força. Apenas alguns segundos depois é que conseguiu reconhece-lo. O cara era o nerd da sua turma de colégio. Ajudara-o várias vezes com a mulherada. Antes que pudesse implorar para que ele ficasse quieto já foi arrastando-o para sua turma e gritando:
-Aí galera! Tenho que apresentar a vocês uma lenda viva na minha cidade. O único e incomparável Rebimboca! Tô falando amigo, hoje você vai ficar com a gente, ninguém põe a mão em você.
-Calma, calma Obama. Primeiro ele tem que provar porque merece tanta distinção. Porque seu apelido é Rebimboca?
Deu um profundo suspiro de resignação:
-Quando eu tinha dezoito anos, lá na minha cidade eu namorava a filha do dono de uma rede concessionárias. Um dia ele me pediu para levar um carro até uma das lojas dele em uma cidade vizinha. O carro quebrou no meio do caminho e eu levei até uma oficina de um conhecido dele. Bem, o sacana disse que o problema estava na rebimboca da parafuseta e eu fiz a besteira de ligar para meu ex sogro e dizer isso. Aí o apelido pegou.
O riso entre os veteranos era geral. O muy amigo que o colocara nessa situação não parava de dizer, em ébria alegria:
-Esperem! Tem mais!
-E porque você se tornou uma lenda?
-Bem... Eu saia com essa menina e uma outra que era casada. Só que a coisa era muito perigosa porque minha namorada era de um ciúme doentio. E o cônjuge da outra também. Porque sabíamos que nossos celulares eram rastreados, inventamos todo um código para nos comunicarmos. A senha para se encontrar para ir para o motel era escrever potássios em vez da letra k para significar risos. Eu só não contava com o fato da minha namorada ser mais burra que uma porta e por não entender, encasquetar que naquele mato tinha coelho. Quando eu estava entrando no motel com a outra ela enfiou o carro dela a toda velocidade no meu. Sorte que pegou na traseira senão eu estaria morto. Quando eu desço eu vejo ela vindo alucinada na minha direção, gritando:
-Seu desgraçado! Seu rebimboca da parafuseta arrombada!
-Daí eu mão vi mais nada. Parti para cima dela e começamos a quebrar o maior pau. Só que na época eu sofria de flatulência nervosa. Então era um espetáculo: batendo e peidando, batendo e peidando. Nisso chegou uma viatura de polícia. Agora, adivinha quem estava dentro? A marida da outra!
-Como é que é? Ela era casada com uma mulher?
-Robertona, o terror dos bandidos da cidade. Quando a outra viu que era ela se apavorou e tentou fugir. Nisso azedou o caldo. Primeiro ela encheu a companheira de pancada. Depois me deu um tratamento especial, com spray de pimenta e borrachada. Nisso eu já tinha peidado tanto que minha calça jeans estava marrom.
-Rapaz, isso é que eu chamo de azar.
-Eu não. Processei a minha ex namorada, o Estado pela violência policial e o motel que colocou o vídeo das câmeras de segurança no YouTube. Hoje eu vivo de renda.
Fez-se um pequeno momento de silêncio e então passaram todos a gritar:
-Rebimboca! Rebimboca! Rebimboca!