*NATAL, UM QUADRO VIVO
Uma sena inusitada. Embaixo da árvore, na praça, o olhar fixou a sena por alguns minutos. Um senhor esquelético, só osso. A carne parecia que não existia sob a pele queimada. Varria o local. Tudo arrumadinho. Uma caixa, talvez contendo míseros mantimentos adquiridos com as moedas extraídas dos passantes, algumas molambos encardidos, uma criança com rosto sujo, uma mulher sorridente, um cachorro.
A mulher sorridente sim! Nunca vi mulher sorrir na miséria! Mulheres atiradas ao destino têm rosto áspero, olhar de ódio faiscando á uma simples palavra de desagrado. Mas vi-a sorrindo quando lhe atiraram uma cédula, eu não sei a quantia, seria talvez uma quantia nunca recebida e daria para uma noite de natal, uma só noite, que valia por uma noite apenas, mas valia. Amanhã o mesmo ódio se instalaria no rosto desengano com a vida.
Somente o cachorro criara carne e estava roliço. Na praça, os restos de comidas jogados ao chão era banquete de qualidade para um vira lata, pequenino ainda.
Quase dez horas da noite, perigo iminente em qualquer praça, mesmo em bairro residencial. Ao redor, casas iluminadas, cadeiras nos jardins, entram e saem amigos. Clima de festa.
A sobrinha desceu para pegar iguarias encomendadas, na confeiteira. O olhar deu um giro ao redor. Na quadra, se havia quadra de jogos, estava mal conservada; um carrinho de pipoqueiro, guarnecido por cadeado; rede elástica, onde crianças pulavam, aguardando o próximo desafio.
Observei uma lapinha artificial, na casa em frente, com luzes ofuscando, presentes caros, bolinhas coloridas imagens de santos e animais adorando o Jesus Menino.
Fixei o olhar na sena ao lado: uma lona velha cobria a pequena árvore contra o sereno da noite. O cachorro deitado olhando atento para sua dona, a criança, dormindo em molambos à luz de lamparina, luz que apaga as trevas, a fumaça para espantar mosquitos era como incenso ofertado ao Jesus Menino.
Mas estava lá, a lapinha, no desejo oculto, sem poder ou sofisticação. Foi aí, neste recurso natural, que vi por instinto, para não apagar e perpetuar a história, uma lapinha natural. Os pais sentados no chão, guardiões da filha, um cachorro, uma lamparina para espantar as trevas. Uma família á margem da sociedade sem o colorido artificial dos festejos.
Pintei na mente, uma lapinha, era um quadro vivo no Natal.
Feliz Natal a todos.
Uma sena inusitada. Embaixo da árvore, na praça, o olhar fixou a sena por alguns minutos. Um senhor esquelético, só osso. A carne parecia que não existia sob a pele queimada. Varria o local. Tudo arrumadinho. Uma caixa, talvez contendo míseros mantimentos adquiridos com as moedas extraídas dos passantes, algumas molambos encardidos, uma criança com rosto sujo, uma mulher sorridente, um cachorro.
A mulher sorridente sim! Nunca vi mulher sorrir na miséria! Mulheres atiradas ao destino têm rosto áspero, olhar de ódio faiscando á uma simples palavra de desagrado. Mas vi-a sorrindo quando lhe atiraram uma cédula, eu não sei a quantia, seria talvez uma quantia nunca recebida e daria para uma noite de natal, uma só noite, que valia por uma noite apenas, mas valia. Amanhã o mesmo ódio se instalaria no rosto desengano com a vida.
Somente o cachorro criara carne e estava roliço. Na praça, os restos de comidas jogados ao chão era banquete de qualidade para um vira lata, pequenino ainda.
Quase dez horas da noite, perigo iminente em qualquer praça, mesmo em bairro residencial. Ao redor, casas iluminadas, cadeiras nos jardins, entram e saem amigos. Clima de festa.
A sobrinha desceu para pegar iguarias encomendadas, na confeiteira. O olhar deu um giro ao redor. Na quadra, se havia quadra de jogos, estava mal conservada; um carrinho de pipoqueiro, guarnecido por cadeado; rede elástica, onde crianças pulavam, aguardando o próximo desafio.
Observei uma lapinha artificial, na casa em frente, com luzes ofuscando, presentes caros, bolinhas coloridas imagens de santos e animais adorando o Jesus Menino.
Fixei o olhar na sena ao lado: uma lona velha cobria a pequena árvore contra o sereno da noite. O cachorro deitado olhando atento para sua dona, a criança, dormindo em molambos à luz de lamparina, luz que apaga as trevas, a fumaça para espantar mosquitos era como incenso ofertado ao Jesus Menino.
Mas estava lá, a lapinha, no desejo oculto, sem poder ou sofisticação. Foi aí, neste recurso natural, que vi por instinto, para não apagar e perpetuar a história, uma lapinha natural. Os pais sentados no chão, guardiões da filha, um cachorro, uma lamparina para espantar as trevas. Uma família á margem da sociedade sem o colorido artificial dos festejos.
Pintei na mente, uma lapinha, era um quadro vivo no Natal.
Feliz Natal a todos.