O pecado

De dedo firme apontava-me como culpado da sua desgraça.

- Ele enganou-me! – Vociferava.

Corei, perante o engulho. A minha mente fervilhava, procurando palavras que me defendessem dos olhos acusadores, que me condenavam sem ouvirem a minha defesa. Mas, as palavras engatilhavam-se-me na garganta, arrastadas, incoerentes, confusas, apenas saindo o som desesperado de uma gaguez incriminatória, indecifrável.

- Malandro! …É preciso ser muito reles para fazer uma baixeza destas a esta inocente. Se fosse minha irmã…

Se até aí ouvi sem argumentar perante uma consciência que me manietava e castrava à nascença. Perante esta ameaça velada, o orgulho impôs-se ao atropelo da minha verve, e de peito feito, avancei:

- O que farias? Nada, suponho! Essa tua valentia acoita-se no seio do grupo que ainda não ouviu da minha boca, nada tão provocatório como essa tua fanfarronice. Se és assim tão valente, avança, certamente que não precisas que seja tua irmã para justificares a tua sede de vingança da tareia que te dei.

Um sururu deixou-o meio sem jeito quanto à possível ajuda para me acertar o passo.

- Depois, perante ela e todos aqueles que me apontam o dedo pergunto; Enganei-a? Prometi-lhe alguma coisa que agora nego? Forcei-a? Ela que o diga.

O som que ouvia no seio da turba deu para perceber que os tinha dividido. Olhei-a fixamente, ela avermelhou, lacrimejou e sem saber o que dizer, repetiu:

- Enganaste-me sim senhor!

- Enganei-te ou tu é que me enganaste? Ou melhor, não será que nos enganamos os dois. Eu quis e tu quiseste, onde é que está a razão quando me acusas de tal traição.

- Mas o que aconteceu? - Perguntou o meu pai que entretanto se aproximara.

- Foi o Tónio que comeu dos meus bombons e que depois eu poderia comer dos dele.

- E qual foi problema?

- Ele não tinha já quase nenhuns.

Lorde
Enviado por Lorde em 04/12/2016
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