Assim nasceu URUANA DE MINAS

ASSIM NASCEU A CIDADE URUANA DE MINAS

Como não poderia deixar de ser, Jarbas participou da criação da cidade de Uruana de Minas, uma vez que esta cidade se encontra situada no seu berço amado: o Vale do Urucuia.

Tudo aconteceu no início dos anos sessenta, à margem do córrego Suçuarana, localidade que foi a sede da fazenda do velho Padre (Antônio Pereira da Mota). Alí “foi semeada e germinou a semente” que deu origem cidade de Uruana de Minas.

Tal acontecimento foi à realização do maior sonho que o povo da Fazenda Pasto dos Bois sonhou durante muitas décadas. Este sonho foi sonhado intensamente por aquela facção de urucuianos que morava entre a Serra do Baruzeiro, Pingo D’água e os ribeirões, São Miguel e Boi Preto. Durante anos, o povo sonhou, buscou e defendeu “com unhas e dentes”, a criação de uma cidade no meio daquele sertão Urucuiano, no noroeste do Estado das Minas Gerais.

Foi aquele povo humilde que sonhava trazer àquele sertão agreste desprovido de desenvolvimento que fez acontecer aquele fenômeno: uma igrejinha, um campo de futebol, uma vendinha, muita fé e trabalho, hoje, uma cidade!

Todos sonhavam com uma igreja abrigando a imagem de Nossa Senhora da Conceição, maior e único símbolo do catolicismo que existia na região e que guardavam e adoravam há muitas gerações.

“O sonho de um, é um sonho, mas o sonho de muitos torna-se realidade!”

A igreja, além de representar a casa de Deus, representaria espaço público e liberdade para os louvores e homenagens que os fiéis da região dispensavam à imagem, única referência religiosa para os padres que vinham anualmente trazer ao povo conforto espiritual com a celebração de missas, rezas, pregações, ensinamentos e sacramentos indispensáveis ao catolicismo, embora com a natural restrição, uma vez que o encontro religioso se dava em recintos particulares.

A santa sem casa, possuía um patrimônio de 42 (quarenta e duas) cabeças de gado, oriundas das ofertas de fiéis e pagamentos de promessas.

Estandislau Pereira de Morais (Bilauzinho), fazendeiro na Beira da Ilha, devoto da santa, inclusive chamava-a carinhosa e respeitosamente de “Patroa,” na época, era incumbido da honrosa missão de guardar a sua imagem. Era este o maior patrimônio espiritual e o mais forte elo do catolicismo daquela gente há muitos anos. A imagem reverenciada por todos.

Consequentemente, Bilauzinho cuidava também do seu rebanho que era criado na fazenda Boi Preto, de Saint-Clair Valadares Júnior e eram milhares de hectares de terras que abrigavam gado bovino e equino de grande parte do povo da região. Inclusive, da santa. Como o proprietário da grande fazenda morava muito distante, na capital do Estado e a fazenda ficava abandonada, pois era muito grande e sem cercas e sem controle.

O povo da localidade, junto aos padres, planejava, criar uma cidade naquele agreste e desta, a santa seria a padroeira. Nos primórdios deste sonho, nem sequer estradas de rodagem havia na região. Porém, no início dos anos sessenta surgiu, vindo de Unaí, um jovem boiadeiro que começou a mudar aquela realidade.

Eli Pinto de Carvalho, um rapaz ambicioso, trabalhador e arrojado que havia comprado a fazenda Leitão situada às margens do rio São Miguel e começou ali um grande movimento e, em seguida, encabeçou um abaixo-assinado, para angariar recursos junto aos demais fazendeiros e abrir uma estrada de rodagem partindo de Unaí com destino a fazenda Boi Preto, passando pela fazenda Pasto dos Bois.

Na época já existia uma estrada da Fazenda Boi Preto a Bonfinópolis, ainda que precária.

A estrada foi então construída com apenas um trator de esteira e descia ao Vale, pela serra do Baruzeiro. Era quase que um estreito e longo desmatamento, mas dava condições para trafegar jipes, camionetas e caminhões, portanto não deixou de ser um avanço, uma importante conquista para o povo local. Passava de frente às ruínas da casa do finado Padre.

É importante ressaltar que, aquele padre não foi vigário; simplesmente, tinha essa alcunha por ser calvo, branco e corado, igual aos padres que, na época, geralmente eram holandeses e tinham essas características. Ele não era também o dono da terra, porém herdeiro da proprietária, D. Balbina (velha Balbina), que tinha outros diversos herdeiros, como por exemplo, Astor Ferreira de Morais e esposa, que eram primos entre si. Dessa herança, Astor vendeu cinco hectares de terras para a santa, onde seria construída a igreja, assim, “plantando a semente” que germinaria a tão sonhada cidade.

A consolidação desse propósito efetivou-se por volta de 1962, quando Nadir Buenos junto com Boa Ventura comprou a fazenda Boi Preto e determinaram que todos os criadores que tivessem gado na dita, e esses eram muitos, inclusive a Santa, teriam que retirá-los dentro de certo prazo.

A “semente” de Uruana de Minas, pode-se dizer que foi plantada exatamente no dia 8 de dezembro de 1962, na fazenda de Bilauzinho, ande e quando acontecia todos os anos, a reza em lovor da referida santa (Nossa Senhora da Conceição).

Naquele dia, como sempre, reuniu-se o povo da redondeza para rezar. Ao terminar a ladainha e, depois das tradicionais manifestações de amizade entre amigos, vizinhos, parentes e compadres houve a “biscoitada” (café com biscoitos), como era costume. Depois o povo foi se dispersando, restando apenas alguns amigos na venda do Bilauzinho, que amistosamente bebericavam uma cachacinha. Entre eles se encontravam: os irmãos Estanislau Alves Ferreira (Bilau) e Rozendo Ferreira de Morais (Rosa), Astor Ferreira de Morais e outros, além do dono da venda, que era Bilauzinho (Estandislau Pereira de Morais). Eles comentavam animadamente os últimos acontecimentos. As então novidades, quando foi abordado o assunto sobre os novos proprietários da Fazenda Boi Preto, Nadir e Ventura, e ainda o ultimato que estes deram para a retirada do gado alheio da fazenda. Daí surgiu uma discussão em volta do gado da santa, que era mantido na dita fazenda.

Bilauzinho então desabafou pressionando: – Prá falar a verdade, eu não sei o que vou fazer com o gado da Patroa, pois o meu pasto é como ocês sabe, não dá nem pro meu gadinho. A minha terra é pequena e não dá para criar esse gado todo. Acho que vou vender todo gado da santa, entregar o dinheiro pro seu vigário e a imagem dela, eu vou levá e deixá na igreja do Morrinho.

Rosa corou surpreso, ligeiramente encolerizado e tomou a palavra dizendo com voz acentuada, não muito calma:

– O gado, Bilauzinho, ocê pode fazê dele o que ocê quisé, mas, da imagem da santa, não. Ela, o meu avô guardou por muitos anos, até quando morreu e deixou ela aos cuidados de meu pai e este, para mim e pra Bilau, mas, como é ocê quem cuida do gado, o seu vigário decidiu que ocê guardasse ela e, como nóis dois: Bilau e eu, era solteiros, nem casa direito nóis tinha naquele tempo, morava quase que debaixo do chapéu, aí nóis achamos por bem deixá ela concê. Mas tirá ela daqui do Pasto dos Bois? Isso eu não aceito e acho que ninguém vai aceitá. Se ocê tá pensando nisso, me entrega ela agora e eu levo ela pra minha casa, pois agora eu tenho casa e lá tem lugá pra ela!

Astor disse:

– Não, gente, calma aí! Eu tenho uma proposta melhor: lugá de

santo é na igreja. Já que ela tem conforto prá construí, é só nóis vendê o gado dela e fazê a igreja pra santa, uai. Pois o gado num tá reservado pra isso esse tempo todo?

Houve o zunzum de praxe. Um disse uma coisa, outro disse outra e foram muitos os comentários, discussões e opiniões, mas faltava uma coisa e foi Bilauzinho quem perguntou:

– Mas aonde vamos fazê essa bendita igreja?

–Então respondeu Astor: – Ora, pode sê na beira da Suçuarana. Ali onde morou o velho Padre, pois é um lugá bom, plano na beira d’àgua franca e bem centralizado dentro da fazenda. A terra é do espólio da velha Balbina, minha tia, pelo que eu também sou herdeiro e, da parte da herança que me cabe, eu vendo um pedaço de terra pra santa. O gado dela dá pra fazê a igreja e pagá o terreno, uai.

Bilauzinho concordou: – É verdade. A Patroa tem quarenta e

duas cabeças de gado, dá para pagar uns cinco hectares de terra e construir a igreja que, no começo, não precisa sê muito grande.

Astor completou: – Cinco hectares de terra, umas vinte e cinco vacas dá pra pagá; com o dinheiro da venda do resto do gado, a gente faz a construção.

Alguém argumentou: – É mesmo. Numa área de cinco hectares

dá pra construí a igreja e porção de casas para cumessá a cidade.

Assim acordaram todos e selaram o acordo com uma, duas, três ou mais rodadas de pinga. Bilau se mostrando muito alegre, animado e generoso, assumiu a despesa pagando as rodadas de cachaça e assim patrocinou a comemoração do acontecido.

No lugar proposto para a futura cidade já existia um morador chamado Franco.

A idéia da cidade naquele local foi divulgada e transformou-se no principal assunto, discutido na região, por um bom tempo.

Bilauzinho e outros fecharam negócio com Astor nos cinco hectares de terra, pela qual deram, em pagamento, vinte e oito cabeças de gado, “de mamando a caducando”: vacas paridas com as respectivas crias, novilhas, novilhos etc. Isso, sem se preocuparem com o inventário, nem observarem demais documentos.

O negócio foi feito verbalmente, fator que, após algum tempo, não deixou de trazer alguns transtornos à vila em relação a documentos.

Logo de imediato, Bilauzinho se entendeu com Zé de Funcho, rapaz dali mesmo da região, que havia morado em Brasília por algum tempo e voltou se dizendo pedreiro, construtor etc.

A ele foi empreitada a construção que, uma vez realizada de forma bem elementar e sem muita segurança, com tijolinho maciço assentado no barro vermelho, pelo que a construção, antes de receber a “Patroa”, ruiu com o primeiro temporal. Porém, quando chegou à época da seca, mês de maio daquele ano de 1963, Bilauzinho, levando a família em seu carro de boi, armou barraca no local, ali se instalou e disse:

- “Agora enquanto a igreja não tiver feita e acabada, faça chuva, faça sol, eu tou aqui.” E assim foi construída. Desta vez, mais ampla e mais segura.

Por volta de 1965, lá chegou Vicente Miguel da Silveira e abriu uma venda, bem na passagem da Suçuarana, na beira da estrada de rodagem, dentro da área de terras destinada a santa. Assim, “germinava a semente” que deu origem à cidade, nas entranhas da fazenda Pasto dos Bois, distrito de Garapuava, município de Unaí, estado de Minas Gerais.

Vicente Miguel convocou a rapaziada das redondezas e formou um time de futebol. Fez um mutirão, destocou, arrancou cupins, nivelou o terreno a enxada e enxadão, fincou um par de traves doadas por Manoel Viana, fazendeiro e carpinteiro da região e fez um campo de futebol em frente á igreja.

A vila começava a criar vida. Logo foi criada uma linha de ônibus três vezes por semana de Unaí á Faz Boi Preto passando pela vila, ida num dia e volta no outro. Na época a Faz. Boi Preto estav sendo desapropriada para a colônia de Sagarana.

Em todos os domingos, havia jogos de futebol, quermesse e ladainhas na igrejinha, acompanhados de leilões e forrós, sob os pés de mangas remanescentes do pomar da velha fazenda.

No patrimônio, como era chamada de início a povoação, havia poucos moradores, mas a vizinhança rural era farta e também carente de diversão, portanto marcava presença maciça nos eventos domingueiros, proporcionava muita movimentação e sempre excesso do consumo de bebida alcoólica, principalmente de cachaça adquirida no comércio de Vicente Miguel ou de outras vendinhas que

Surgiam no dia a dia.

Tal procedimento gerava brigas, com agressões de todas as formas. No mínimo, cacetadas.

Devido a esses acontecimentos, foi que João de Saquim, muito crítico e criativo, apelidou o povoado por São José dos Cacetes. O nome pegou igual visgo e todo mundo conhecia a vila assim. Inclusive, correspondências vindas da cidade, até comunicações da administração municipal ou de qualquer outro lugar, continha esse escrito: Para fulano de tal, Vila São José dos Cacetes. No visor do ônibus, também, era escrito: “Unaí a Vila São José”. Omitia o restante.

A vila crescia, chegavam pessoas de todos os lados; sempre gente de poucas posses buscando crescer financeira e socialmente. Gente que vinha dos mais diversos lugares para tentar a sorte na cidade que surgia no Vale do Urucuia, pois esta era rodeada pelas terras férteis de propriedade de gente simples, humilde e de pouca visão de valores; assim eram acessíveis. Ali estava uma chance que o forasteiro tinha para adquirir terras a preço modesto, também, para tentar um espaço no comércio aproveitando a tolerância peculiar das comunidades recém-formadas, desprovidas de complexidade na estrutura física. Logo surgiram outros comerciantes além de Vicente Miguel da Silveira. Por volta de 1968, alguns crentes: Juscelino, Domingo de Sancho e outros se uniram e abriram o, Armazém União, onde não vendiam bebidas alcoólicas, fumo, nem qualquer objeto ou substância que satisfizesse o vício.

Ainda surgiram Zé Botinha, Ourivaldo e Jésus Alves Ferreira. Este último se estabeleceu com um misto de armazém e farmácia.

Não eram comércios de grandes portes, eram apenas vendas, com sortimento bem elementar. Porém, qualquer novidade que aparecia fazia a diferença e era nessa particularidade que os comerciantes apostavam.

Também havia muita oportunidade na agricultura. A região era promissora: produzia feijão, milho e arroz satisfatoriamente. Outro atrativo era a facilidade para construir, e, para quem ainda não tinha possuído uma casa, estava ali a oportunidade: o terreno, a princípio era de graça ou se fosse vendido, era só a posse e por um preço irrisório. Muitas vezes, bastava simplesmente escolher e marcar o lugar. A construção era sem nenhuma burocracia, sem exigências, podia ser construída na medida do possível, conforme a condição do indivíduo. Dispensava projeto, aprovação de órgão público, alvará ou qualquer outra despesa como habite-se, etc. Também acontecia de os tijolos serem feitos no próprio terreno e as paredes levantadas com barro vermelho. O Reboco era se desse certo, pintura, dificilmente existia. Se a casa estivesse com paredes levantadas, o Chão batido e coberta, já era considerada habitável. A água era buscada no córrego ou num cisterna, para que tinha condições para tanto.

A madeira, geralmente Jarbas, fazendeiro da região doava. Ele tinha uma serraria na fazenda para satisfazer as suas próprias necessidades, mas, como tinha fartura de madeira, quando alguém o procurava, era atendido prontamente: ganhava a madeira serrada e desfiada, no ponto de colocar na construção e, ainda, muitas vezes, até recebia a domicílio. Tudo isso Jarbas fazia com naturalidade, com o único objetivo de incentivar o crescimento do povoado que era a “menina dos seus olhos”.

Quando se deu a primeira venda de lotes no povoado, realizada pela Prefeitura Municipal de Unaí, por hasta pública, Jarbas comprou duas quadras num total de vinte e quatro lotes. Mas, com o passar do tempo, doou todos eles. Jamais vendeu algum e nenhum entrou em seu inventário.

A vila São José dos Cacetes ganhou o nome de Uruana no início dos anos setenta. Aconteceu uma reunião para esse fim: criar o nome definitivo e oficial do povoado. Reuniram-se na pensão de D. Maria, mãe de Osvaldino, que era na antiga casa de Franco, composta pelo próprio Osvaldino, pelo então prefeito Ronaldo Marques e seu vice, Delvito Alves, o ex-prefeito Sebastião Alves Pinheiro (Tão), Jarbas, Bilau, Rosa, Manoel Viana, Véio Peba, Jésus

Alves Ferreira e alguns outros.

Astor não participou porque era de segmento político contrário. Era oposição e não se misturava com a facção da situação, quando o assunto era político.

Ali o pequeno congresso falou de política, tramou estratégias, houve reivindicações e cobranças. Discutiu animadamente enquanto as autoridades ouviam. Surgiram os mais variados nomes como sugestão para a cidade que nascia, como, por exemplo: Ricardo de Morais, homenagem ao pai de Astor, recentemente falecido e muito querido na região pela humildade e mansidão; Vila São Miguel;

Recanto Urucuiano; Boa Esperança; Chão Vermelho – uma alusão à vista do alto da serra.

De repente Jarbas falou:

– Tão, foi ocê quem começou tudo isso, ou pelo menos, o começo foi no seu governo e ocê deu todo apoio. Agora é importante a sua sugestão, sugere aí um nome, porque os que saíram até agora não tão agradando não.

– Ele sorriu com sua calma costumeira e disse:

- Uai, o que eu sugiro mesmo é unir os nomes: Urucuia e Suçuarana: tira um pedacim de cada um deles e emenda as duas partes pra fazê o nome da cidade.

Fez uma pausa que gerou um pequeno suspense, ninguém entendeu, mas ele concluiu: – Nós pega uru de Urucuia e ana de Suçuarana e faz uruana. É esse o nome que eu sugiro, mas ocês pode ficá à vontade pra aceitá ou não. O que ocês resolvê, eu assino embaixo.

Delvito bateu palmas e exclamou: - Uruana! Falou a voz da sabedoria e da experiência. Jarbas tinha razão, quem dá o nome ao filho é o pai! Claro que esse é o nome indicado. Alguém não concorda?- E completou em tom de brincadeira: – Quem não concordar “fale agora ou cale-se para sempre.”

Todos riram, mas ninguém discordou. Delvito, que havia tomado o rumo das coisas, falou: – Bem, se todos estão de acordo, com a licença do senhor prefeito, eu declaro a vila São José, na Faz. Pasto dos Bois, batizada com o nome de Uruana.

Foi assim que criaram o nome de Uruana e, por ocasião de sua

Emancipação política ficou, Uruana de Minas.

Jarbas estava no auge da ascensão: era um fazendeiro próspero e destacava-se na política.

Aquela região era sem recursos, o meio de vida da grande maioria era o trabalho braçal e a pouca renda que a roça proporcionava. A vida era difícil, penosa, porém existia Jarbas com seu espírito solidário, seu senso de caridade e seu jipe para amenizar as maiores necessidades e atender os necessitados nas doenças mais graves, principalmente nos acidentes. Por tudo isso ele era admirado, amado e idolatrado por aquele povo. Era um formador de opinião e sua vontade era acatada pela grande massa. Tinha autoridade, gozava do respeito, estima e apoio do povo.

Em ocasião de campanha política, era costume muitas pessoas montarem no cavalo e viajarem até um dia inteiro para ir à sua fazenda perguntar-lhe em quem deveriam votar. Tinham-no como seu guia político, acreditavam que era ele quem sabia quais os melhores candidatos.

Se ele não se encontrasse na fazenda no momento, muitos ficavam por ali até mais de um dia, esperando-o.

Ele jamais cobrou essa atenção de alguém, era um ato espontâneo do povo que o elegia absoluto líder político da região.

Por tudo isso, o seu valioso apoio era disputado pelos políticos. Sebastião Alves Pinheiro (Tão), então prefeito de Unaí, o respeitava e atendia todas as suas reivindicações sem discutir.

Jarbas foi muito importante para o povoado de Uruana porque soube usar a amizade e o prestígio que detinha, para trazer vários benefícios que foram primordiais, pois deram condições para o povoado desenvolver e conseguir a sua emancipação política, em meados dos anos noventa.

Tão foi prefeito de Unaí por três vezes e, em todas elas, independente de haver vereador local, Jarbas era o seu representante na região. Ele estava sempre presente nas reuniões de cunho político realizadas no povoado e defendia os interesses locais. Representava o prefeito em sua ausência, decidia e firmava compromissos que, para o prefeito, eram sagrados. E, por isso, ele foi peça fundamental na construção de Uruana de Minas.

Era comum, ele usar seus próprios recursos para atender reivindicações do povo e necessidades do povoado. Às vezes, quando alguém o procurava, querendo usar sua influência para conseguir algo na Prefeitura, coisas que, muitas vezes, não eram atribuição do poder público, mas o povo desconhecia essa questão de competência e cobrava, ele, evitando desgaste à administração, se fosse uma coisa mais simples, respondia:

– Ah! Não paga a pena mexer com prefeitura pra isso, vai écomplicar as coisas. Pode deixar que eu mesmo vou providenciar. E realmente fazia por conta própria. Fazia como fez muito! Foi assim no caso da construção do prédio, sede do serviço da Polícia Militar e da Telebrasília. Além do terreno que doou para as duas edificações, ainda ajudou com dinheiro, madeira etc.

No caso do “quartel” da Polícia Militar, foram: o cabo Zé Divino e Elisiário Luiz Brandão, à sua fazenda, a fim de pedir-lhe ajuda para construí-lo.

Lá o Militar relatou a dificuldade em trabalhar sem um local apropriado para recolher em caráter provisório os alterados e mesmo alguns delinquentes até a oportunidade de levá-los para a cadeia pública da cidade.

Jarbas, logo se comprometeu a construir um prédio com sala de espera, sala para escritório, mais banheiro e duas celas, conforme as necessidades alegadas pelo Cabo de Polícia.

Quanto ao terreno, também não era problema. Ele se comprometeu doar naquele ato e realmente fez. Assim a edificação da delegacia/cadeia de Uruana de Minas foi feita por Eliziário Luiz Brandão, sob a administração do cabo Zé Divino e patrocinada por Plínio Jarbas Valadares.

No início dos anos oitenta, Uruana estava satisfatoriamente desenvolvida e já com um posto de abastecimento de derivados de petróleo. O seu proprietário, César Vieira Borges, se encontrava em dificuldade de comunicação com a empresa distribuidora do produto e ainda outras atividades tão necessárias aos seus negócios, ou do interesse da comunidade.

Buscando sanear tais problemas, lutava pela instalação de um telefone no povoado, o que naquela época não era fácil.

César também tinha bom relacionamento nos bastidores políticos de Unaí pelo que foi convidado a participar de certa reunião política que seria realizada naquela cidade, ocasião em que estaria presente uma importante autoridade da Empresa Telefônica. César compareceu e conseguiu ser apresentado à referida autoridade: Coronel Danton Nogueira e falou sobre seu interesse e o Coronel lhe respondeu que o pleito era justo, mas só teria condições de ser atendido se no local existisse um prédio nos moldes exigidos pela empresa e completou:

– Vou lhe enviar o projeto do prédio exigido pela Telebrasília, para a instalação dos aparelhos, assim que você edificar o prédio comunique-me e eu instalarei o telefone em sua comunidade e tocando em suas costas com amistosas palmadinhas, afirmou:- Palavra de Danton Nogueira.

Algum tempo depois, César recebeu o projeto e pôs mãos à obra: começou uma campanha para angariar recursos para a construção. As exigências da Companhia, para a construção comparando às do povoado, não eram modestas. O empreendimento era relativamente oneroso, haja vista o que era exigido no projeto: estrutura de cimento armado, laje ou forros de pinho, cabines bem acabadas, jardins etc.

Embora a construção não fosse grande, o terreno teria que ter uma área acima de 500m², isso para comportar determinada área verde à sua volta.

Quando Jarbas foi procurado para contribuir, foi conscientizado das dificuldades e disse a César:

– Eu dou o terreno e você começa a construção, faça o que o dinheiro que você conseguir der para fazer. Depois de esgotado o recurso, eu assumo o resto.

Todo o recurso que César conseguiu deu para pouco mais que o alicerce e Jarbas como sempre fez, cumpriu a sua promessa e arcou com o restante da obra até a sua conclusão.

Jarbas tinha tamanho prestígio, que ninguém entendia a origem nem por quais vias ele o conseguiu. Sua vontade ou opinião sempre era ouvida, valorizada, aceita, cumprida e seus pedidos atendidos pelas autoridade de qualquer poder. Enfim, sua palavra tinha peso e poder. Não era agente da justiça ou da polícia, nem tampouco autoridade administrativa constituída, mas, tinha uma autoridade natural nos três segmentos; tinha então uma facilidade muito grande para resolver pendengas e apaziguar conflitos. Era certamente um dom trazido do berço, um dom dado por Deus. Não era advogado, mas, com sua mineirice, lidava facilmente com autoridades e conseguia soltar presos, e mudar posições radicais em litígios.

Não sabia negar o que lhe fosse pedido, desde que houvesse alguma possibilidade de atender. Jamais deixou de buscar a solução para um problema de quem quer que fosse, desde que lhe solicitada a ajuda.

Ainda que fosse seu adversário, inimigo ou tivesse procedimento duvidoso, se o procurasse, teria a sua atenção e seria atendido. Isso intrigava as pessoas que não queriam aceitar tal capacidade em um homem tão humilde, simples e sem nenhuma formação acadêmica.

Foi caluniado, difamado e criticado por pessoas que queriam tomar seu lugar. Que queriam sua liderança na sociedade urucuiana, mas não tinham o que oferecer, para tanto. Não tinham o carisma de Jarbas!

Por diversas vezes, Jarbas foi vítima de panfletagem anônima espalhada covardemente, na calada da noite, pela cidade de Arinos. Foram atos covardes que tentavam denegrir a sua imagem, com piadas jocosas envolvendo seu nome, tentando afetar a sua moral. Isso sempre acontecia! Porém a moral de Jarbas sempre esteve acima dessas picuinhas, imune a ardis dos invejosos e ele jamais se acovardou. Continuou, enquanto viveu, sendo o homem de muito poder político e que sempre o usou em benefício de terceiros. Muitas vezes os próprios beneficiados esqueceram os favores recebidos e tentaram, todavia sem conseguir, medir poderes e prestígios com ele, sempre de maneira desleal, mas em vão.

Muitas vezes a frustração da derrota foi transformada em mágoa, dando vazão a atos irresponsáveis, resultando nas citadas baixarias.

Ainda me recordo de uma matéria de jornal que responsabilizava Jarbas por abusos de autoridade cometidos por agentes da Polícia Militar em Uruana, na época da Ditadura Militar.

Foi em meados dos anos setenta. “As más línguas” diziam que o “dos policiais” foi encomendado por Jarbas. Tal matéria, fruto de depoimentos e conclusões precipitadas, irresponsáveis e improcedentes, nasceu de uma facção política adversária. Porém no fim da matéria, o próprio jornal se retratava manifestando: – “Não é do nosso conhecimento que o Sr. Plínio Jarbas Valadares, homem a quem admiramos e respeitamos, seja comandante da Polícia Militar ou tenha poderes para dar ordens a policiais. Portanto não concordamos com as acusações, ainda porque conhecemos os méritos do cidadão em tela, conhecemos a sua postura e trabalho em prol da sociedade [...]” e finalizava:

“Jarbas é igual à garça, que ainda que, dentro do pântano, no meio do lamaçal, é limpa e alva como a neve.”