A PROMOÇÃO
Poucos minutos depois do café, Bruno já sentava na sua mesa. Olhava os primeiros papéis, separava algumas notas fiscais do dia anterior. Nem bem começou a atender o primeiro telefonema, quando ouviu um grande barulho, como se uma estante de aço fosse arremessada contra o chão. Em seguida ouviu muita correria e gritos de confusão. Tudo acontecia no corredor que dava acesso a sua sala e também ao portão do depósito. Pouco tempo depois tudo era silêncio.
Bruno mais uma vez tinha chegado para o trabalho. Por hábito, ele sempre chegava vinte minutos antes do expediente. Chegando ia direto para o vestiário. Seu armário era o de número dezesseis. Quase como num ritual, aprendido, necessário, ele arruma outra vez, sempre. Um caderno de anotações, mais papéis e avisos, todos em ordem, fácil de ver e ao alcance das mãos. Tirava então sua roupa e vestia o fardamento da empresa. Agora se sentia completo. Aquele uniforme completava seu corpo, seu espírito. Toda a sua experiência de anos dava-lhe a segurança necessária para iniciar aquele primeiro dia como chefe do almoxarifado.
Naquele instante começava a pensar no beijo de despedida de Ana, sua esposa e parceira de luta. Lembra de quantas horas teve que ficar até tarde na sua casa, aprendendo novos fluxogramas de controle, novas planilhas e os instrumentos de avaliação de qualidade. O trabalho agora fazia sentido. Diante de tantas incertezas, a rotina da lida diária era algo prazeroso e dava rumo a sua vida. O perfume dela, o seu jeito meigo e suas palavras de carinho e incentivo vinham à sua lembrança como troféu merecido. – Você fez por merecer. Disse ela no último abraço no início daquela manhã.
Não era tanto o poder que o deixava feliz naquele momento. O respeito ele já tinha conseguido, dos colegas e do presidente daquela companhia. Sentia-se satisfeito pelo reconhecimento da sua dedicação e competência. Começava a sonhar que a partir de então, com o aumento de salário que o novo cargo ia lhe proporcionar poderia realizar alguns sonhos. Pensou logo de imediato na bicicleta que sua filha, Carine de nove anos, tinha lhe pedido no último aniversário e ele não pode dar. Ver a alegria e o brilho nos olhos daquela garota, tão inteligente e tão afetuosa lhe fazia muito bem. Agora, também, daria para pagar um curso de Inglês para ela. Há quase dois anos pensava nisso toda noite. Ele trazia como certeza que uma boa educação é o maior patrimônio que os pais podem oferecer aos filhos. Está possibilidade lhe deixava ainda mais feliz.
Ana também não lhe saia da cabeça. Ele agora via a possibilidade de realizar um grande sonho. Nas próximas férias iriam fazer uma grande viagem. Conhecer Foz de Iguaçu era o desejo de Ana, desde a época que namoram, e isto no próximo ano completaria dez anos. Ele nem conseguia imaginar a felicidade daquela viagem. Os três, ele Carine e Ana fazendo juntos o grande passeio. Tudo parecia perfeito. Agora, era só esperar. Trabalharia feliz e certamente os próximos doze messes passariam muito rápidos.
Como fazia desde que chegou naquela empresa, foi para a copa, onde tomaria café, suco e comeria um sanduíche. Após aquele café com conversa leve e sorriso largo, estaria pronto para iniciar um novo dia e uma nova história. Sua sala ficava há dois andares abaixo. Ás vezes descia de elevador e outras preferia a escada. Naquela manhã, o atendimento iniciava às oito horas como de costume. Ele se sentia bem e preferiu descer as escadas, para prolongar um pouco mais seus pensamentos e a sua felicidade.
Em meio à confusão matinal, Bruno, mesmo com um sentimento de medo é impulsionado pelo dever que a sua função lhe atribuía. Abriu a porta e em menos de dois passos foi paralisado por uma pistola mirando sua cabeça. Nem uma palavra dita, somente um olhar sem respostas. Um estouro, uma bala na cabeça. Corpo ao chão. Convulsões, agitação, respiração agônica. Silêncio. Agora sua filha pedalava sorridente a bicicleta. Fazia frio. Ele e Ana encontravam-se abraçados com suas capas de chuva recebendo os respingos da catarata. Tudo era silêncio. André, seu melhor amigo, segurava sua mão. Cumplicidade no último instante. Lá fora ouvia-se sirenes de ambulâncias. Pouso de helicóptero. Para Bruno, eterno silêncio.
Poucos minutos depois do café, Bruno já sentava na sua mesa. Olhava os primeiros papéis, separava algumas notas fiscais do dia anterior. Nem bem começou a atender o primeiro telefonema, quando ouviu um grande barulho, como se uma estante de aço fosse arremessada contra o chão. Em seguida ouviu muita correria e gritos de confusão. Tudo acontecia no corredor que dava acesso a sua sala e também ao portão do depósito. Pouco tempo depois tudo era silêncio.
Bruno mais uma vez tinha chegado para o trabalho. Por hábito, ele sempre chegava vinte minutos antes do expediente. Chegando ia direto para o vestiário. Seu armário era o de número dezesseis. Quase como num ritual, aprendido, necessário, ele arruma outra vez, sempre. Um caderno de anotações, mais papéis e avisos, todos em ordem, fácil de ver e ao alcance das mãos. Tirava então sua roupa e vestia o fardamento da empresa. Agora se sentia completo. Aquele uniforme completava seu corpo, seu espírito. Toda a sua experiência de anos dava-lhe a segurança necessária para iniciar aquele primeiro dia como chefe do almoxarifado.
Naquele instante começava a pensar no beijo de despedida de Ana, sua esposa e parceira de luta. Lembra de quantas horas teve que ficar até tarde na sua casa, aprendendo novos fluxogramas de controle, novas planilhas e os instrumentos de avaliação de qualidade. O trabalho agora fazia sentido. Diante de tantas incertezas, a rotina da lida diária era algo prazeroso e dava rumo a sua vida. O perfume dela, o seu jeito meigo e suas palavras de carinho e incentivo vinham à sua lembrança como troféu merecido. – Você fez por merecer. Disse ela no último abraço no início daquela manhã.
Não era tanto o poder que o deixava feliz naquele momento. O respeito ele já tinha conseguido, dos colegas e do presidente daquela companhia. Sentia-se satisfeito pelo reconhecimento da sua dedicação e competência. Começava a sonhar que a partir de então, com o aumento de salário que o novo cargo ia lhe proporcionar poderia realizar alguns sonhos. Pensou logo de imediato na bicicleta que sua filha, Carine de nove anos, tinha lhe pedido no último aniversário e ele não pode dar. Ver a alegria e o brilho nos olhos daquela garota, tão inteligente e tão afetuosa lhe fazia muito bem. Agora, também, daria para pagar um curso de Inglês para ela. Há quase dois anos pensava nisso toda noite. Ele trazia como certeza que uma boa educação é o maior patrimônio que os pais podem oferecer aos filhos. Está possibilidade lhe deixava ainda mais feliz.
Ana também não lhe saia da cabeça. Ele agora via a possibilidade de realizar um grande sonho. Nas próximas férias iriam fazer uma grande viagem. Conhecer Foz de Iguaçu era o desejo de Ana, desde a época que namoram, e isto no próximo ano completaria dez anos. Ele nem conseguia imaginar a felicidade daquela viagem. Os três, ele Carine e Ana fazendo juntos o grande passeio. Tudo parecia perfeito. Agora, era só esperar. Trabalharia feliz e certamente os próximos doze messes passariam muito rápidos.
Como fazia desde que chegou naquela empresa, foi para a copa, onde tomaria café, suco e comeria um sanduíche. Após aquele café com conversa leve e sorriso largo, estaria pronto para iniciar um novo dia e uma nova história. Sua sala ficava há dois andares abaixo. Ás vezes descia de elevador e outras preferia a escada. Naquela manhã, o atendimento iniciava às oito horas como de costume. Ele se sentia bem e preferiu descer as escadas, para prolongar um pouco mais seus pensamentos e a sua felicidade.
Em meio à confusão matinal, Bruno, mesmo com um sentimento de medo é impulsionado pelo dever que a sua função lhe atribuía. Abriu a porta e em menos de dois passos foi paralisado por uma pistola mirando sua cabeça. Nem uma palavra dita, somente um olhar sem respostas. Um estouro, uma bala na cabeça. Corpo ao chão. Convulsões, agitação, respiração agônica. Silêncio. Agora sua filha pedalava sorridente a bicicleta. Fazia frio. Ele e Ana encontravam-se abraçados com suas capas de chuva recebendo os respingos da catarata. Tudo era silêncio. André, seu melhor amigo, segurava sua mão. Cumplicidade no último instante. Lá fora ouvia-se sirenes de ambulâncias. Pouso de helicóptero. Para Bruno, eterno silêncio.