Louca tentação

James, amor da minha vida!

Parece que foi ontem que te vi, no entanto, tanta água já passou debaixo da ponte.

Estava acompanhado pela minha esposa naquela manhã de Domingo. O desejo de um café fez-nos entrar. Enquanto o saboreava, espraiava a vista pelo ambiente repleto de gente que entrava e saía, subitamente como que hipnotizado, quedei-me. O meu olhar prendia-se agora à tua elegante figura. Senhor de ti, e rodeado dos teus iguais, certamente que não te apercebias do ar de basbaque com que te mirava. Um toque no braço para pagar a conta, acordou-me. Só então dei conta da figurinha que estava a fazer. Corei e censurei-me por essa minha fraqueza, ainda mais, por ter a meu lado a incomodativa presença da minha esposa.

Não sei o que se passava, mas ainda que disfarçadamente remirava-te com a cupidez de um adolescente. O teu charme fazia-me imaginar mil volúpias sem escrúpulos. Esforcei-me, palavra que me esforcei, para desviar o olhar e, concentrar-me na pergunta da minha esposa, se gostava da lingerie exposta na montra ao lado. Sem pensar no que dizia, soltei; sei lá? Ela fez uma careta, emburrou e agarrando-me no braço fez-me andar a toque de caixa, dali para fora. Naquele dia não lhe resisti, e sem olhar para trás, segui-a, feito cachorro, no vaivém infinito de compras femininas que me entediavam.

À noite, ao ver o meu clube brindar-me com uma vitória, coisa rara, senti ânsias de abraçar alguém, pensei em ti, que juntos prolongássemos pela noite dentro o meu contentamento, ou pelo menos até à hora daquela megera me chamar para dormir que, indiferente aos meus delírios, não comemora nem permite que o faça, para não chatear o vizinho que é do clube rival.

Fui fraco, confesso, voltei lá apenas e só para te ver novamente. A tua imagem, o teu porte britânico…, desculpa…, escocês! Como sei que fazes questão de frisar, enlouquecia-me. Na minha mente doente sonhava ter-te, agarrar-te, acariciar-te, mas tu, na tua fleuma tipicamente escocesa, desta vez não me enganei, parecias ignorar-me. Talvez por ser mais velho do que tu, desculpa a familiaridade, ou por ser um homem casado, mas em ti vejo um jovem, ainda que te consideres velho e digno, pela importância que te dão os teus trinta anos, enquanto eu, é aquilo que vês.

Voltei uma, duas, três, sei lá quantas vezes, para ver se lá continuavas. Não imaginas angústia que sentia de chegar e não te ver. O meu coração batia descompassado em ânsias de pura loucura. Ao mesmo tempo o meu subconsciente recriminava-me, acusando-me de imoral e galdério sem pingo de vergonha na cara, deixando-me seduzir ao som de flautas pro abismo.

Temia que te fosses embora, conquistado por alguém que não te merecesse, que não te apreciasse, tipo; ricalhaço pançudo, que farto de ti, te desprezasse como se fosses qualquer coisa que se usa e deita fora.

Não, James, não sou louco, sou um pobre ser com sentimentos como qualquer outro, mas tenho princípios e dignidade, ainda que ela diga que os perco de dia pra dia. Junto de ti destravo sentimentos escondidos ou obsessivos e perante o teu silêncio apetece-me gritar: Ai como é bom o silêncio em tal companhia, como és tão bom ouvinte!

Tu és a acha do meu fogo, a luz que me aquece e ilumina, o amor que me entontece… Bem sei que muitos te dirão o mesmo, mas decerto, poucos serão os que fielmente te fazem corte tão apaixonadamente.

Pois é, meu loiro querido! Escocês do meu coração! Deste-me a volta à cabeça. Sonho contigo a toda a hora, embora sabendo que a moral me condena e me escorraça. Vejo-me a desnudar-te, descobrir-te, absorver o teu hálito, beijar-te, sugar-te até à última. Embora sabendo que quando acordar me sentirei tonto, com dor cabeça e uma sede danada, capaz de secar um jarro de litro e meio de água, de um só folego.

Dás cabo de mim, meu querido e caríssimo uísque James Martin´s!

Lorde
Enviado por Lorde em 10/11/2016
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