O bêbado
Sentou-se a sarjeta, com uma garrafa de pinga a mão, um cigarro na outra e a mente cheia de pensamentos. O bêbado, que bailava ao vento, seja por efeito do álcool ou porque a retidão, há muito, o havia abandonado, agora descansara torto no passeio.
Uma senhora de vestido comportado o repreendia com o olhar. Um menino inquieto o temia, escondendo-se ao lado do pai, agarrando mais forte a sua mão. A menina bonita, dos cabelos castanhos, trocou de lado, temendo ser molestada.
O bêbado ignorava a conjuntura que o rodeava. Entorpecido pela bebida, sonhava um sonho bobo. Pensava ele ser rei, de uma terra distante. Sentado em seu trono, sem coroa, já que, ao invés de coroa, em sua cabeça ostentava o amor dela. Ele não precisava de coroa.
A chuva molhou seu rosto, que agora encontrava-se erguido, apagando o seu cigarro. Por um momento, o bêbado, pensou que a estiagem chegava ao fim em seu reino. Mas mal sabia ele que não se tratava de chuva, nem em seu reino, nem no mundo real. Era a senhora, de vestido comportado, que aguava as plantas, como desculpa, apenas, e aproveitava a mangueira pra afugentá-lo dali.
Sai o bêbado, entorpecido em sonhos e álcool, ouvindo impropérios da senhora. Foi se deitar em outra calçada, mudar de reino, já que naquele o amor dela se ausentara.