Tempestade em fim de tarde
Ele foi sincero, disse o que pensava sobre ela. Daquela vez não tinha medo da resposta, não tinha medo de ouvir alguma coisa que não fosse o esperado. Na verdade sentia alivio, em arrancar do peito um sentimento.
Falar não arrancava do peito um sentimento. Aquele sentimento não se desgarraria assim tão fácil. Levaria uma parte dele junto. Já tinha fundas as suas raízes e, regado de esperança e desejo, cresceu, mesmo que ainda não tivesse florescido.
De fato ele não ouviu o que queria. Que medo tem alguém que não se entrega? Ele sempre fora tempestade em fim de tarde. Aquelas que sucedem um dia quente, são precedidas por um vento úmido e gelado e caem como se o mundo fosse terminar, mas no fim refrescam a noite. Ele esperava isso dos outros também. Coitado!
Amor não correspondido dói bem menos que aquele amor em dúvida. Aquele que a pessoa demonstra às vezes. É como fogueira ao vento intermitente, em que ora queima forte e brilhante quando o ar se aquieta, ora quase se apaga quando o vento sopra.
Saber pouco é muito pior que o não saber. O saber pouco está atrelado ao querer muito, ao sentir muito. Mas o que se sabe é que não se pode fazer nada.